1
Na terra de Uz vivia um homem chamado Jó. Era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava fazer o mal.2 Tinha ele sete filhos e três filhas
3 e possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de boi e quinhentos jumentos e tinha muita gente a seu serviço. Era o homem mais rico do oriente.
4
Seus filhos costumavam dar banquetes em casa, um de cada vez, e convidavam suas três irmãs para comerem e beberem com eles.5 Terminado um período de banquetes, Jó mandava chamá-los e fazia com que se purificassem. De madrugada ele oferecia um holocausto em favor de cada um deles, pois pensava: “Talvez os meus filhos tenham, lá no íntimo, pecado e amaldiçoado a Deus”. Essa era a prática constante de Jó.
6
Certo dia os anjos vieram apresentar-se ao SENHOR, e Satanás também veio com eles.7 O SENHOR disse a Satanás: “De onde você veio?”
Satanás respondeu ao SENHOR: “De perambular pela terra e andar por ela”.8
Disse então o SENHOR a Satanás: “Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal”.9
“Será que Jó não tem razões para temer a Deus?”, respondeu Satanás.10 “Acaso não puseste uma cerca em volta dele, da família dele e de tudo o que ele possui? Tu mesmo tens abençoado tudo o que ele faz, de modo que os seus rebanhos estão espalhados por toda a terra.
11 Mas estende a tua mão e fere tudo o que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face.”
12
O SENHOR disse a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque nele”. Então Satanás saiu da presença do SENHOR.13
Certo dia, quando os filhos e as filhas de Jó estavam num banquete, comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho,14 um mensageiro veio dizer a Jó: “Os bois estavam arando e os jumentos estavam pastando por perto,
15 quando os sabeus os atacaram e os levaram embora. Mataram à espada os empregados, e eu fui o único que escapou para lhe contar!”
16
Enquanto ele ainda estava falando, chegou outro mensageiro e disse: “Fogo de Deus caiu do céu e queimou totalmente as ovelhas e os empregados, e eu fui o único que escapou para contar a você!”17
Enquanto ele ainda estava falando, chegou outro mensageiro e disse: “Vieram caldeus em três bandos, atacaram os camelos e os levaram embora. Mataram à espada os empregados, e eu fui o único que escapou para contar a você!”18
Enquanto ele ainda estava falando, chegou ainda outro mensageiro e disse: “Seus filhos e suas filhas estavam num banquete, comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho,19 quando, de repente, um vento muito forte veio do deserto e atingiu os quatro cantos da casa, que desabou. Eles morreram, e eu fui o único que escapou para contar a você!”
20
Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se com o rosto em terra, em adoração,21 e disse:
“Saí nu do ventre da minha mãe,22
Em tudo isso Jó não pecou e não culpou a Deus de coisa alguma.1
Num outro dia os anjos vieram apresentar-se ao SENHOR, e Satanás também veio com eles para apresentar-se.2 O SENHOR perguntou a Satanás, “De onde você veio?”
Satanás respondeu ao SENHOR: “De perambular pela terra e andar por ela”.3
Disse então o SENHOR a Satanás: “Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal. Ele se mantém íntegro, apesar de você me haver instigado contra ele para arruiná-lo sem motivo”.4
“Pele por pele!”, respondeu Satanás. “Um homem dará tudo o que tem por sua vida.5 Estende a tua mão e fere a sua carne e os seus ossos, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face.”
6
O SENHOR disse a Satanás: “Pois bem, ele está nas suas mãos; apenas poupe a vida dele”.7
Saiu, pois, Satanás da presença do SENHOR e afligiu Jó com feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça.8 Então Jó apanhou um caco de louça e com ele se raspava, sentado entre as cinzas.
9
Então sua mulher lhe disse: “Você ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe a Deus, e morra!”10
Ele respondeu: “Você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios.11
Quando três amigos de Jó, Elifaz, de Temã, Bildade, de Suá, e Zofar, de Naamate, souberam de todos os males que o haviam atingido, saíram, cada um da sua região. Combinaram encontrar-se para, juntos, irem mostrar solidariedade a Jó e consolá-lo.12 Quando o viram a distância, mal puderam reconhecê-lo e começaram a chorar em alta voz. Cada um deles rasgou seu manto e colocou terra sobre a cabeça.
13 Depois os três se assentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma palavra, pois viam como era grande o seu sofrimento.
1
Depois disso Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento,2 dizendo:
3
“Pereça o dia do meu nascimento
e a noite em que se disse:
‘Nasceu um menino!’
4
Transforme-se aquele dia em trevas,
e Deus, lá do alto,
não se importe com ele;
não resplandeça a luz sobre ele.
5
Chamem-no de volta as trevas
e a mais densa escuridão ;
coloque-se uma nuvem sobre ele
e o negrume aterrorize a sua luz.
6
Apoderem-se daquela noite
densas trevas!
Não seja ela incluída
entre os dias do ano,
nem faça parte de nenhum dos meses.
7
Seja aquela noite estéril,
e nela não se ouçam brados de alegria.
8
Amaldiçoem aquele dia
os que amaldiçoam os dias
e são capazes de atiçar o Leviatã .
9
Fiquem escuras
as suas estrelas matutinas,
espere ele em vão pela luz do sol
e não veja os primeiros raios
da alvorada,
10
pois não fechou as portas
do ventre materno
para evitar
que eu contemplasse males.
11
“Por que não morri ao nascer12
Por que houve joelhos
para me receberem
e seios para me amamentarem?
13
Agora eu bem poderia
estar deitado em paz
e achar repouso
14
junto aos reis e conselheiros da terra,
que construíram para si
lugares que agora jazem em ruínas,
15
com governantes que possuíam ouro,
que enchiam suas casas de prata.
16
Por que não me sepultaram
como criança abortada,
como um bebê
que nunca viu a luz do dia?
17
Ali os ímpios já não se agitam,
e ali os cansados
permanecem em repouso;
18
os prisioneiros também
desfrutam sossego,
já não ouvem mais os gritos
do feitor de escravos.
19
Os simples e os poderosos ali estão,
e o escravo está livre do seu senhor.
20
“Por que se dá luz aos infelizes,21
aos que anseiam pela morte
e esta não vem,
e a procuram mais
do que a um tesouro oculto,
22
aos que se enchem de alegria
e exultam quando vão
para a sepultura?
23
Por que se dá vida àquele
cujo caminho é oculto
e a quem Deus fechou as saídas?
24
Pois me vêm suspiros
em vez de comida;
meus gemidos
transbordam como água.
25
O que eu temia veio sobre mim;
o que eu receava me aconteceu.
26
Não tenho paz,
nem tranquilidade, nem descanso;
somente inquietação”.
1
Então respondeu Elifaz, de Temã:2
“Se alguém se aventurar
a dizer a você uma palavra,
isso tirará a sua paciência?
Mas quem pode refrear as palavras?
3
Pense bem! Você ensinou a tantos;
fortaleceu mãos fracas.
4
Suas palavras davam firmeza
aos que tropeçavam;
você fortaleceu joelhos vacilantes.
5
Mas agora que se vê em dificuldade,
você desanima;
quando você é atingido,
fica prostrado.
6
Sua vida piedosa
não inspira confiança a você?
E o seu procedimento irrepreensível
não dá a você esperança?
7
“Reflita agora:8
Pelo que tenho observado,
quem cultiva o mal e semeia maldade,
isso também colherá.
9
Pelo sopro de Deus são destruídos;
pelo vento de sua ira eles perecem.
10
Os leões podem rugir e rosnar,
mas até os dentes dos leões fortes
se quebram.
11
O leão morre por falta de presa,
e os filhotes da leoa se dispersam.
12
“Disseram-me uma palavra13
Em meio a sonhos perturbadores da noite,
quando cai sono profundo
sobre os homens,
14
temor e tremor
se apoderaram de mim
e fizeram estremecer
todos os meus ossos.
15
Um espírito roçou o meu rosto,
e os pelos do meu corpo
se arrepiaram.
16
Ele parou,
mas não pude identificá-lo.
Um vulto se pôs
diante dos meus olhos,
e ouvi uma voz suave, que dizia:
17
‘Poderá algum mortal
ser mais justo que Deus?
Poderá algum homem ser mais puro
que o seu Criador?
18
Se Deus não confia em seus servos,
se vê erro em seus anjos e os acusa,
19
quanto mais nos que moram
em casas de barro,
cujos alicerces estão no pó!
São mais facilmente esmagados
que uma traça!
20
Entre o alvorecer e o crepúsculo
são despedaçados;
perecem para sempre,
sem ao menos serem notados.
21
Não é certo que as cordas
de suas tendas
são arrancadas,
e eles morrem sem sabedoria?’
1
“Clame, se quiser,2
O ressentimento mata o insensato,
e a inveja destrói o tolo.
3
Eu mesmo já vi
um insensato lançar raízes,
mas de repente a sua casa
foi amaldiçoada.
4
Seus filhos longe estão
de desfrutar segurança,
maltratados nos tribunais,
não há quem os defenda.
5
Os famintos devoram a sua colheita,
tirando-a até do meio dos espinhos,
e os sedentos sugam a sua riqueza.
6
Pois o sofrimento não brota do pó,
e as dificuldades não nascem do chão.
7
No entanto, o homem nasce
para as dificuldades
tão certamente como as fagulhas
voam para cima.
8
“Mas, se fosse comigo,9
Ele realiza maravilhas insondáveis,
milagres que não se pode contar.
10
Derrama chuva sobre a terra
e envia água sobre os campos.
11
Os humildes, ele exalta
e traz os que pranteiam
a um lugar de segurança.
12
Ele frustra os planos dos astutos,
para que fracassem as mãos deles.
13
Apanha os sábios na astúcia deles,
e as maquinações dos astutos
são malogradas por sua precipitação.
14
As trevas vêm sobre eles
em pleno dia;
ao meio-dia eles tateiam
como se fosse noite.
15
Ele salva o oprimido
da espada
que trazem na boca;
salva-o das garras dos poderosos.
16
Por isso os pobres têm esperança,
e a injustiça cala a própria boca.
17
“Como é feliz o homem18
Pois ele fere,
mas trata do ferido;
ele machuca,
mas suas mãos também curam.
19
De seis desgraças ele o livrará;
em sete delas você nada sofrerá.
20
Na fome ele o livrará da morte
e na guerra o livrará
do golpe da espada.
21
Você será protegido
do açoite da língua
e não precisará ter medo
quando a destruição chegar.
22
Você rirá da destruição e da fome
e não precisará temer as feras da terra.
23
Pois fará aliança
com as pedras do campo,
e os animais selvagens
estarão em paz com você.
24
Você saberá que a sua tenda
é segura;
contará os bens da sua morada
e de nada achará falta.
25
Você saberá que
os seus filhos serão muitos,
e que os seus descendentes
serão como a relva da terra.
26
Você irá para a sepultura
em pleno vigor,
como um feixe recolhido
no devido tempo.
27
“Verificamos isso e vimos1
Então Jó respondeu:2
“Se tão somente pudessem
pesar a minha aflição
e pôr na balança a minha desgraça!
3
Veriam que o seu peso é maior
que o da areia dos mares.
Por isso as minhas palavras
são tão impetuosas.
4
As flechas do Todo-poderoso
estão cravadas em mim,
e o meu espírito suga delas o veneno;
os terrores de Deus
me assediam.
5
Zurra o jumento selvagem
se tiver capim?
Muge o boi se tiver forragem?
6
Come-se sem sal
uma comida insípida?
E a clara do ovo, tem algum sabor?
7
Recuso-me a tocar nisso;
esse tipo de comida
causa-me repugnância.
8
“Se tão somente fosse atendido9
se Deus se dispusesse a esmagar-me,
a soltar a mão protetora
e eliminar-me!
10
Pois eu ainda teria o consolo,
minha alegria
em meio à dor implacável,
de não ter negado
as palavras do Santo.
11
“Que esperança posso ter,12
Acaso tenho a força da pedra?
Acaso a minha carne é de bronze?
13
Haverá poder que me ajude
agora que os meus recursos se foram?
14
“Um homem desesperado15
Mas os meus irmãos enganaram-me
como riachos temporários,
como os riachos que transbordam
16
quando o degelo os torna turvos
e a neve que se derrete os faz encher,
17
mas que param de fluir
no tempo da seca
e no calor desaparecem
dos seus leitos.
18
As caravanas se desviam
de suas rotas;
sobem para lugares desertos
e perecem.
19
Procuram água
as caravanas de Temá,
olham esperançosos
os mercadores de Sabá.
20
Ficam tristes,
porque estavam confiantes;
lá chegaram tão somente
para sofrer decepção.
21
Pois agora vocês
de nada me valeram;
contemplam minha temível situação
e se enchem de medo.
22
Alguma vez pedi a vocês
que me dessem alguma coisa?
Ou que da sua riqueza
pagassem resgate por mim?
23
Ou que me livrassem
das mãos do inimigo?
Ou que me libertassem das garras
de quem me oprime?
24
“Ensinem-me,25
Como doem as palavras verdadeiras!
Mas o que provam
os argumentos de vocês?
26
Vocês pretendem corrigir o que digo
e tratar como vento
as palavras de um homem
desesperado?
27
Vocês seriam capazes
de pôr em sorteio o órfão
e de vender um amigo
por uma bagatela!
28
“Mas agora,29
Reconsiderem a questão,
não sejam injustos;
tornem a analisá-la,
pois a minha integridade
está em jogo .
30
Há alguma iniquidade em meus lábios?
Será que a minha boca
não consegue discernir a maldade?
1
“Não é pesado o labor2
Como o escravo que anseia
pelas sombras do entardecer,
ou como o assalariado
que espera ansioso pelo pagamento,
3
assim me deram meses de ilusão
e noites de desgraça
me foram destinadas.
4
Quando me deito,
fico pensando:
Quanto vai demorar
para eu me levantar?
A noite se arrasta,
e eu fico me virando na cama
até o amanhecer.
5
Meu corpo está coberto de vermes
e cascas de ferida,
minha pele está rachada
e vertendo pus.
6
“Meus dias correm mais depressa7
Lembra-te, ó Deus,
de que a minha vida
não passa de um sopro;
meus olhos jamais
tornarão a ver a felicidade.
8
Os que agora me veem,
nunca mais me verão;
puseste o teu olhar em mim,
e já não existo.
9
Assim como a nuvem se esvai
e desaparece,
assim quem desce à sepultura
não volta.
10
Nunca mais voltará ao seu lar;
a sua habitação não mais o conhecerá.
11
“Por isso não me calo;12
Sou eu o mar,
ou o monstro das profundezas,
para que me ponhas sob guarda?
13
Quando penso que
a minha cama me consolará
e que o meu leito
aliviará a minha queixa,
14
mesmo aí me assustas com sonhos
e me aterrorizas com visões.
15
É melhor ser estrangulado e morrer
do que sofrer assim ;
16
sinto desprezo pela minha vida!
Não vou viver para sempre;
deixa-me,
pois os meus dias não têm sentido.
17
“Que é o homem,18
para que o examines a cada manhã
e o proves a cada instante?
19
Nunca desviarás de mim o teu olhar?
Nunca me deixarás a sós,
nem por um instante?
20
Se pequei, que mal te causei,
ó tu que vigias os homens?
Por que me tornaste teu alvo?
Acaso tornei-me um fardo para ti?
21
Por que não perdoas
as minhas ofensas
e não apagas os meus pecados?
Pois logo me deitarei no pó;
tu me procurarás,
mas eu já não existirei”.
1
Então Bildade, de Suá, respondeu:2
“Até quando você vai
falar desse modo?
Suas palavras
são um grande vendaval!
3
Acaso Deus torce a justiça?
Será que o Todo-poderoso
torce o que é direito?
4
Quando os seus filhos
pecaram contra ele,
ele os castigou
pelo mal que fizeram.
5
Mas, se você procurar Deus
e implorar junto ao Todo-poderoso,
6
se você for íntegro e puro,
ele se levantará agora mesmo
em seu favor
e o restabelecerá no lugar
que por justiça cabe a você.
7
O seu começo parecerá modesto,
mas o seu futuro será
de grande prosperidade.
8
“Pergunte às gerações anteriores9
pois nós nascemos ontem
e não sabemos nada.
Nossos dias na terra
não passam de uma sombra.
10
Acaso eles não o instruirão,
não lhe falarão?
Não proferirão palavras vindas
do entendimento?
11
Poderá o papiro crescer
senão no pântano?
Sem água cresce o junco?
12
Mal cresce e,
antes de ser colhido, seca-se,
mais depressa que qualquer grama.
13
Esse é o destino
de todo o que se esquece de Deus;
assim perece a esperança dos ímpios.
14
Aquilo em que ele confia é frágil,
aquilo em que se apoia
é uma teia de aranha.
15
Encosta-se em sua teia, mas ela cede;
agarra-se a ela, mas ela não aguenta.
16
Ele é como uma planta
bem regada ao brilho do sol,
espalhando seus brotos pelo jardim;
17
entrelaça as raízes
em torno de um monte de pedras
e procura um lugar entre as rochas.
18
Mas, quando é arrancada
do seu lugar,
este a rejeita e diz: ‘Nunca a vi’.
19
Esse é o fim da sua vida,
e do solo brotam outras plantas.
20
“Pois o certo é que21
Mas, quanto a você,
ele encherá de riso a sua boca
e de brados de alegria os seus lábios.
22
Seus inimigos
se vestirão de vergonha,
e as tendas dos ímpios
não mais existirão”.
1
Então Jó respondeu:2
“Bem sei que isso é verdade.
Mas como pode o mortal
ser justo diante de Deus?
3
Ainda que quisesse discutir com ele,
não conseguiria argumentar
nem uma vez em mil.
4
Sua sabedoria é profunda,
seu poder é imenso.
Quem tentou resistir-lhe e saiu ileso?
5
Ele transporta montanhas
sem que elas o saibam
e em sua ira
as põe de cabeça para baixo.
6
Sacode a terra e a tira do lugar,
e faz suas colunas tremerem.
7
Fala com o sol, e ele não brilha;
ele veda e esconde a luz das estrelas.
8
Só ele estende os céus
e anda sobre as ondas do mar.
9
Ele é o Criador da Ursa e do Órion,
das Plêiades e das constelações do sul.
10
Realiza maravilhas
que não se pode perscrutar,
milagres incontáveis.
11
Quando passa por mim,
não posso vê-lo;
se passa junto de mim, não o percebo.
12
Se ele apanha algo,
quem pode pará-lo?
Quem pode dizer-lhe:
‘O que fazes?’
13
Deus não refreia a sua ira;
até o séquito de Raabe encolheu-se
diante dos seus pés.
14
“Como então poderei eu15
Embora inocente,
eu seria incapaz de responder-lhe;
poderia apenas implorar
misericórdia ao meu Juiz.
16
Mesmo que eu o chamasse
e ele me respondesse,
não creio que me daria ouvidos.
17
Ele me esmagaria
com uma tempestade
e sem motivo multiplicaria
minhas feridas.
18
Não me permitiria
recuperar o fôlego,
mas me engolfaria em agruras.
19
Recorrer à força?
Ele é mais poderoso!
Ao tribunal?
Quem o intimará?
20
Mesmo sendo eu inocente,
minha boca me condenaria;
se eu fosse íntegro,
ela me declararia culpado.
21
“Conquanto eu seja íntegro,22
É tudo a mesma coisa;
por isso digo:
Ele destrói tanto o íntegro
como o ímpio.
23
Quando um flagelo
causa morte repentina,
ele zomba do desespero dos inocentes.
24
Quando um país
cai nas mãos dos ímpios,
ele venda os olhos de seus juízes.
Se não é ele, quem é então?
25
“Meus dias correm26
Passam como barcos de papiro,
como águias que mergulham
sobre as presas.
27
Se eu disser:
Vou esquecer a minha queixa,
vou mudar o meu semblante e sorrir,
28
ainda assim me apavoro
com todos os meus sofrimentos,
pois sei que não me considerarás inocente.
29
Uma vez que já fui
considerado culpado,
por que deveria eu lutar em vão?
30
Mesmo que eu me lavasse
com sabão
e limpasse as minhas mãos
com soda de lavadeira,
31
tu me atirarias num poço de lodo,
para que até as minhas roupas
me detestassem.
32
“Ele não é homem como eu,33
Se tão somente houvesse alguém
para servir de árbitro entre nós,
para impor as mãos sobre nós dois,
34
alguém que afastasse de mim
a vara de Deus,
para que o seu terror
não mais me assustasse!
35
Então eu falaria sem medo;
mas não é esse o caso.
1
“Minha vida só me dá desgosto;2
Direi a Deus: Não me condenes;
revela-me que acusações
tens contra mim.
3
Tens prazer em oprimir-me,
em rejeitar a obra de tuas mãos,
enquanto sorris
para o plano dos ímpios?
4
Acaso tens olhos de carne?
Enxergas como os mortais?
5
Teus dias são como
os de qualquer mortal?
Os anos de tua vida
são como os do homem?
6
Pois investigas a minha iniquidade
e vasculhas o meu pecado,
7
embora saibas que não sou culpado
e que ninguém pode
livrar-me das tuas mãos.
8
“Foram as tuas mãos9
Lembra-te de que me moldaste
como o barro;
e agora me farás voltar ao pó?
10
Acaso não me despejaste como leite
e não me coalhaste como queijo?
11
Não me vestiste de pele e carne
e não me juntaste
com ossos e tendões?
12
Deste-me vida e foste bondoso
para comigo
e na tua providência
cuidaste do meu espírito.
13
“Mas algo escondeste14
Se eu pecasse,
estarias me observando
e não deixarias sem punição
a minha ofensa.
15
Se eu fosse culpado, ai de mim!
Mesmo sendo inocente,
não posso erguer a cabeça,
pois estou dominado pela vergonha
e mergulhado na minha aflição.
16
Se mantenho a cabeça erguida,
ficas à minha espreita como um leão
e, de novo, manifestas contra mim
o teu poder tremendo.
17
Trazes novas testemunhas
contra mim
e contra mim aumentas a tua ira;
teus exércitos atacam-me
em batalhões sucessivos.
18
“Então, por que me fizeste19
Se tão somente
eu jamais tivesse existido,
ou fosse levado direto do ventre
para a sepultura!
20
Já estariam no fim
os meus poucos dias?
Afasta-te de mim, para que eu tenha
um instante de alegria,
21
antes que eu vá para o lugar
do qual não há retorno,
para a terra de sombras
e densas trevas ,
22
para a terra tenebrosa como a noite,
terra de trevas e de caos,
onde até mesmo a luz é escuridão”.
1
Então Zofar, de Naamate, respondeu:2
“Ficarão sem resposta
todas essas palavras?
Irá confirmar-se
o que esse tagarela diz?
3
Sua conversa tola calará os homens?
Ninguém o repreenderá
por sua zombaria?
4
Você diz a Deus:
‘A doutrina que eu aceito é perfeita,
e sou puro aos teus olhos’.
5
Ah, se Deus falasse com você,
se contra você abrisse os lábios
6
e revelasse
os segredos da sabedoria!
Pois a verdadeira sabedoria
é complexa.
Fique sabendo que Deus esqueceu
alguns dos seus pecados.
7
“Você consegue perscrutar8
São mais altos que os céus!
O que você poderá fazer?
São mais profundos
que as profundezas !
O que você poderá saber?
9
Seu comprimento
é maior que a terra
e a sua largura é maior que o mar.
10
“Se ele ordena uma prisão11
Pois ele não identifica os enganadores
e não reconhece a iniquidade
logo que a vê?
12
Mas o tolo só será sábio
quando a cria do jumento selvagem
nascer homem .
13
“Contudo, se você lhe consagrar14
se afastar das suas mãos o pecado
e não permitir que a maldade
habite em sua tenda,
15
então você levantará o rosto
sem envergonhar-se;
será firme e destemido.
16
Você esquecerá as suas desgraças,
lembrando-as apenas
como águas passadas.
17
A vida será mais refulgente
que o meio-dia,
e as trevas serão
como a manhã em seu fulgor.
18
Você estará confiante,
graças à esperança que haverá;
olhará ao redor
e repousará em segurança.
19
Você se deitará,
e não terá medo de ninguém,
e muitos procurarão o seu favor.
20
Mas os olhos dos ímpios fenecerão
e em vão procurarão refúgio;
o suspiro da morte
será a esperança que terão”.
1
Então Jó respondeu:2
“Sem dúvida vocês são o povo,
e a sabedoria morrerá com vocês!
3
Mas eu tenho a mesma capacidade
de pensar que vocês têm;
não sou inferior a vocês.
Quem não sabe dessas coisas?
4
“Tornei-me objeto de riso5
Quem está bem despreza a desgraça,
o destino daqueles
cujos pés escorregam.
6
As tendas dos saqueadores
não sofrem perturbação,
e aqueles que provocam a Deus
estão seguros,
aqueles que transportam o seu deus
em suas mãos.
7
“Pergunte, porém, aos animais,8
fale com a terra, e ela o instruirá,
deixe que os peixes do mar
o informem.
9
Quem de todos eles ignora
que a mão do SENHOR fez isso?
10
Em sua mão
está a vida de cada criatura
e o fôlego de toda a humanidade.
11
O ouvido não experimenta
as palavras
como a língua experimenta a comida?
12
A sabedoria se acha entre os idosos?
A vida longa traz entendimento?
13
“Deus é que tem sabedoria e poder;14
O que ele derruba
não se pode reconstruir;
quem ele aprisiona
ninguém pode libertar.
15
Se ele retém as águas,
predomina a seca;
se as solta, devastam a terra.
16
A ele pertencem a força
e a sabedoria;
tanto o enganado quanto o enganador
a ele pertencem.
17
Ele despoja e demite os conselheiros
e faz os juízes de tolos.
18
Tira as algemas postas pelos reis,
e amarra uma faixa
em torno da cintura deles.
19
Despoja e demite os sacerdotes
e arruína os homens de sólida posição.
20
Cala os lábios
dos conselheiros de confiança,
e tira o discernimento dos anciãos.
21
Derrama desprezo sobre os nobres,
e desarma os poderosos.
22
Revela coisas profundas das trevas
e traz à luz densas sombras.
23
Dá grandeza às nações e as destrói;
faz crescer as nações e as dispersa.
24
Priva da razão os líderes da terra
e os envia a perambular
num deserto sem caminhos.
25
Andam tateando nas trevas,
sem nenhuma luz;
ele os faz cambalear como bêbados.
1
“Meus olhos viram tudo isso,2
O que vocês sabem, eu também sei;
não sou inferior a vocês.
3
Mas desejo falar ao Todo-poderoso
e defender a minha causa
diante de Deus.
4
Vocês, porém, me difamam
com mentiras;
todos vocês são médicos
que de nada valem!
5
Se tão somente ficassem calados,
mostrariam sabedoria.
6
Escutem agora o meu argumento;
prestem atenção à réplica
de meus lábios.
7
Vocês vão falar com maldade
em nome de Deus?
Vão falar enganosamente a favor dele?
8
Vão revelar parcialidade por ele?
Vão defender a causa a favor de Deus?
9
Tudo iria bem se ele os examinasse?
Vocês conseguiriam enganá-lo
como podem enganar os homens?
10
Com certeza ele os repreenderia
se, no íntimo, vocês fossem parciais.
11
O esplendor dele
não os aterrorizaria?
O pavor dele não cairia sobre vocês?
12
As máximas que vocês citam
são provérbios de cinza;
suas defesas não passam de barro.
13
“Aquietem-se e deixem-me falar,14
Por que me ponho em perigo
e tomo a minha vida
em minhas mãos?
15
Embora ele me mate,
ainda assim esperarei nele;
certo é que defenderei
os meus caminhos diante dele.
16
Aliás, será essa a minha libertação,
pois nenhum ímpio ousaria
apresentar-se a ele!
17
Escutem atentamente
as minhas palavras;
que os seus ouvidos
acolham o que eu digo.
18
Agora que preparei a minha defesa,
sei que serei justificado.
19
Haverá quem me acuse?
Se houver, ficarei calado e morrerei.
20
“Concede-me21
Afasta de mim a tua mão
e não mais me assustes
com os teus terrores.
22
Chama-me, e eu responderei,
ou deixa-me falar, e tu responderás.
23
Quantos erros e pecados cometi?
Mostra-me a minha falta
e o meu pecado.
24
Por que escondes o teu rosto
e me consideras teu inimigo?
25
Atormentarás uma folha
levada pelo vento?
Perseguirás a palha?
26
Pois fazes constar contra mim
coisas amargas
e me fazes herdar os pecados
da minha juventude.
27
Acorrentas os meus pés
e vigias todos os meus caminhos,
pondo limites aos meus passos.
28
“Assim o homem se consome1
“O homem nascido de mulher2
Brota como a flor e murcha.
Vai-se como a sombra passageira;
não dura muito.
3
Fixas o olhar num homem desses?
E o trarás à tua presença
para julgamento?
4
Quem pode extrair algo puro da impureza?
Ninguém!
5
Os dias do homem
estão determinados;
tu decretaste o número de seus meses
e estabeleceste limites
que ele não pode ultrapassar.
6
Por isso desvia dele o teu olhar
e deixa-o
até que ele cumpra o seu tempo
como o trabalhador contratado.
7
“Para a árvore8
Suas raízes poderão envelhecer
no solo
e seu tronco morrer no chão;
9
ainda assim, com o cheiro de água
ela brotará
e dará ramos como se fosse
muda plantada.
10
Mas o homem morre
e morto permanece;
dá o último suspiro e deixa de existir.
11
Assim como a água do mar evapora
e o leito do rio perde as águas e seca,
12
assim o homem se deita
e não se levanta;
até quando os céus já não existirem,
os homens não acordarão
e não serão despertados do seu sono.
13
“Se tão somente me escondesses14
Quando um homem morre,
acaso tornará a viver?
Durante todos os dias
do meu árduo labor
esperarei pela minha dispensa .
15
Chamarás, e eu te responderei;
terás anelo pela criatura
que as tuas mãos fizeram.
16
Por certo contarás então
os meus passos,
mas não tomarás conhecimento
do meu pecado.
17
Minhas faltas serão encerradas
num saco;
tu esconderás a minha iniquidade.
18
“Mas, assim como a montanha19
e assim como a água desgasta
as pedras
e as torrentes arrastam terra,
assim destróis a esperança do homem.
20
Tu o subjugas de uma vez por todas,
e ele se vai;
alteras a sua fisionomia
e o mandas embora.
21
Se honram os seus filhos,
ele não fica sabendo;
se os humilham, ele não o vê.
22
Só sente a dor do seu próprio corpo;
só pranteia por si mesmo”.
1
Então Elifaz, de Temã, respondeu:2
“Responderia o sábio com ideias vãs,
ou encheria o estômago com o vento?
3
Argumentaria
com palavras inúteis,
com discursos sem valor?
4
Mas você sufoca a piedade
e diminui a devoção a Deus.
5
O seu pecado motiva a sua boca;
você adota a linguagem dos astutos.
6
É a sua própria boca que o condena,
e não a minha;
os seus próprios lábios
depõem contra você.
7
“Será que você foi o primeiro a nascer?8
Você costuma ouvir
o conselho secreto de Deus?
Só a você pertence a sabedoria?
9
O que você sabe,
que nós não sabemos?
Que compreensão tem você,
que nós não temos?
10
Temos do nosso lado
homens de cabelos brancos,
muito mais velhos
que o seu pai.
11
Não bastam para você
as consolações divinas
e as nossas palavras amáveis?
12
Por que você se deixa levar
pelo coração,
e por que esse brilho nos seus olhos?
13
Pois contra Deus é que você
dirige a sua ira
e despeja da sua boca essas palavras!
14
“Como o homem pode ser puro?15
Pois, se nem nos seus santos
Deus confia,
e se nem os céus são puros
aos seus olhos,
16
quanto menos o homem,
que é impuro e corrupto,
e que bebe iniquidade como água.
17
“Escute-me, e eu explicarei para você;18
o que os sábios declaram
sem esconder o que receberam
dos seus pais,
19
a quem foi dada a terra,
e a mais ninguém;
nenhum estrangeiro passou
entre eles:
20
O ímpio sofre tormentos
a vida toda,
como também o homem cruel,
nos poucos anos
que lhe são reservados.
21
Só ouve ruídos aterrorizantes;
quando se sente em paz,
ladrões o atacam.
22
Não tem esperança
de escapar das trevas;
sente-se destinado ao fio da espada.
23
Fica perambulando;
é comida para os abutres;
sabe muito bem que logo
virão sobre ele as trevas.
24
A aflição e a angústia
o apavoram e o dominam
como um rei pronto para atacar,
25
porque agitou os punhos
contra Deus
e desafiou o Todo-poderoso,
26
afrontando-o com arrogância,
com um escudo grosso e resistente.
27
“Apesar de ter o rosto28
habitará em cidades
prestes a arruinar-se,
em casas inabitáveis,
caindo aos pedaços.
29
Nunca mais será rico;
sua riqueza não durará,
e os seus bens
não se propagarão pela terra.
30
Não poderá escapar das trevas;
o fogo chamuscará os seus renovos,
e o sopro da boca de Deus
o arrebatará.
31
Que ele não se iluda em confiar
no que não tem valor,
pois nada receberá
como compensação.
32
Terá completa paga
antes do tempo,
e os seus ramos não florescerão.
33
Será como a vinha despojada
de suas uvas verdes,
como a oliveira que perdeu
a sua floração,
34
pois o companheirismo dos ímpios
nada lhe trará,
e o fogo devorará as tendas
dos que gostam de subornar.
35
Eles concebem maldade
e dão à luz a iniquidade;
seu ventre gera engano”.
1
Então Jó respondeu:2
“Já ouvi muitas palavras como essas.
Pobres consoladores são vocês todos!
3
Esses discursos inúteis
nunca terminarão?
E você, o que o leva a continuar
discutindo?
4
Bem que eu poderia falar
como vocês,
se estivessem em meu lugar;
eu poderia condená-los
com belos discursos
e menear a cabeça contra vocês.
5
Mas a minha boca
procuraria encorajá-los;
a consolação dos meus lábios
daria alívio para vocês.
6
“Contudo, se falo,7
Sem dúvida, ó Deus,
tu me esgotaste as forças;
deste fim a toda a minha família.
8
Tu me deixaste deprimido,
o que é uma testemunha disso;
a minha magreza se levanta
e depõe contra mim.
9
Deus, em sua ira, ataca-me
e faz-me em pedaços
e range os dentes contra mim;
meus inimigos fitam-me
com olhar ferino.
10
Os homens abrem sua boca
contra mim,
esmurram meu rosto com zombaria
e se unem contra mim.
11
Deus fez-me cair
nas mãos dos ímpios
e atirou-me nas garras dos maus.
12
Eu estava tranquilo,
mas ele me arrebentou;
agarrou-me pelo pescoço
e esmagou-me.
Fez de mim o seu alvo;
13
seus flecheiros me cercam.
Ele traspassou sem dó os meus rins
e derramou na terra a minha bílis.
14
Lança-se sobre mim uma e outra vez;
ataca-me como um guerreiro.
15
“Costurei veste de lamento16
Meu rosto está rubro
de tanto eu chorar,
e sombras densas
circundam os meus olhos,
17
apesar de não haver violência
em minhas mãos
e de ser pura a minha oração.
18
“Ó terra, não cubra o meu sangue!19
Saibam que agora mesmo
a minha testemunha está nos céus;
nas alturas está o meu advogado.
20
O meu intercessor é meu amigo,
quando diante de Deus
correm lágrimas dos meus olhos;
21
ele defende a causa do homem
perante Deus,
como quem defende
a causa de um amigo.
22
“Pois mais alguns anos apenas,1
“Meu espírito está quebrantado,2
A verdade é que
zombadores me rodeiam,
e tenho que ficar olhando
a sua hostilidade.
3
“Dá-me, ó Deus,4
Fechaste as mentes deles
para o entendimento
e com isso não os deixarás triunfar.
5
Se alguém denunciar os seus amigos
por recompensa,
os olhos dos filhos dele fraquejarão,
6
“mas de mim Deus fez7
Meus olhos se turvaram de tristeza;
o meu corpo não passa
de uma sombra.
8
Os íntegros ficam atônitos
em face disso,
e os inocentes se levantam
contra os ímpios.
9
Mas os justos se manterão firmes
em seus caminhos,
e os homens de mãos puras se tornarão
cada vez mais fortes.
10
“Venham, porém, vocês todos,11
Foram-se os meus dias,
os meus planos fracassaram,
como também
os desejos do meu coração.
12
Andam querendo tornar a noite
em dia;
ante a aproximação das trevas dizem:
‘Vem chegando a luz’.
13
Ora, se o único lar pelo qual espero
é a sepultura ,
se estendo a minha cama nas trevas,
14
se digo à corrupção mortal:
Você é o meu pai,
e se aos vermes digo:
Vocês são minha mãe e minha irmã,
15
onde está então
minha esperança?
Quem poderá ver
alguma esperança para mim?
16
Descerá ela às portas do Sheol?
Desceremos juntos ao pó?”
1
Então Bildade, de Suá, respondeu:2
“Quando você vai parar de falar?
Proceda com sensatez,
e depois poderemos conversar.
3
Por que somos considerados
como animais
e somos ignorantes aos seus olhos?
4
Ah, você, que se dilacera de ira!
Deve-se abandonar a terra
por sua causa?
Ou devem as rochas mudar de lugar?
5
“A lâmpada do ímpio se apaga,6
Na sua tenda a luz se escurece;
a lâmpada de sua vida se apaga.
7
O vigor dos seus passos
se enfraquece,
e os seus próprios planos
o lançam por terra.
8
Por seus próprios pés
você se prende na rede,
e se perde na sua malha.
9
A armadilha o pega pelo calcanhar;
o laço o prende firme.
10
O nó corredio está escondido na terra
para pegá-lo,
há uma armadilha em seu caminho.
11
Terrores de todos os lados
o assustam
e o perseguem
em todos os seus passos.
12
A calamidade tem fome de alcançá-lo;
a desgraça está à espera
de sua queda
13
e consome partes da sua pele;
o primogênito da morte
devora os membros do seu corpo.
14
Ele é arrancado da segurança
de sua tenda,
e o levam à força ao rei dos terrores.
15
O fogo mora na tenda dele;
espalham enxofre ardente
sobre a sua habitação.
16
Suas raízes secam-se embaixo,
e seus ramos murcham em cima.
17
Sua lembrança desaparece da terra,
e nome não tem, em parte alguma.
18
É lançado da luz para as trevas;
é banido do mundo.
19
Não tem filhos nem descendentes
entre o seu povo,
nem lhe restou sobrevivente algum
nos lugares onde antes vivia.
20
Os homens do ocidente assustam-se
com a sua ruína,
e os do oriente enchem-se de pavor.
21
É assim a habitação do perverso;
essa é a situação de quem
não conhece a Deus”.
1
Então Jó respondeu:2
“Até quando vocês continuarão
a atormentar-me
e a esmagar-me com palavras?
3
Vocês já me repreenderam dez vezes;
não se envergonham de agredir-me!
4
Se é verdade que me desviei,
meu erro só interessa a mim.
5
Se de fato vocês se exaltam
acima de mim
e usam contra mim
a minha humilhação,
6
saibam que foi Deus
que me tratou mal
e me envolveu em sua rede.
7
“Se grito: É injustiça!8
Ele bloqueou o meu caminho,
e não consigo passar;
cobriu de trevas as minhas veredas.
9
Despiu-me da minha honra
e tirou a coroa de minha cabeça.
10
Ele me arrasa por todos os lados
enquanto eu não me vou;
desarraiga a minha esperança
como se arranca uma planta.
11
Sua ira acendeu-se contra mim;
ele me vê como inimigo.
12
Suas tropas avançam poderosamente;
cercam-me e acampam
ao redor da minha tenda.
13
“Ele afastou de mim14
Os meus parentes me abandonaram
e os meus amigos
esqueceram-se de mim.
15
Os meus hóspedes
e as minhas servas
consideram-me estrangeiro;
veem-me como um estranho.
16
Chamo o meu servo,
mas ele não me responde,
ainda que eu lhe implore
pessoalmente.
17
Minha mulher acha repugnante
o meu hálito;
meus próprios irmãos
têm nojo de mim.
18
Até os meninos zombam de mim
e dão risada quando apareço.
19
Todos os meus amigos chegados
me detestam;
aqueles a quem amo
voltaram-se contra mim.
20
Não passo de pele e ossos;
escapei só com a pele
dos meus dentes .
21
“Misericórdia, meus amigos!22
Por que vocês me perseguem
como Deus o faz?
Nunca irão saciar-se da minha carne?
23
“Quem dera as minhas palavras24
fossem talhadas a ferro no chumbo ,
ou gravadas para sempre na rocha!
25
Eu sei que o meu Redentor vive
e que no fim se levantará
sobre a terra .
26
E, depois que o meu corpo
estiver destruído e sem carne,
verei a Deus.
27
Eu o verei
com os meus próprios olhos;
eu mesmo, e não outro!
Como anseia no meu peito o coração!
28
“Se vocês disserem:29
melhor será que temam a espada,
porquanto por meio dela
a ira trará castigo para vocês,
e então vocês saberão
que há julgamento ”.
1
Então Zofar, de Naamate, respondeu:2
“Agitam-se os meus pensamentos
e levam-me a responder
porque estou profundamente
perturbado.
3
Ouvi uma repreensão
que me desonra,
e o meu entendimento
faz-me contestar.
4
“Certamente você sabe5
o riso dos maus é passageiro,
e a alegria dos ímpios
dura apenas um instante.
6
Mesmo que o seu orgulho
chegue aos céus
e a sua cabeça toque as nuvens,
7
ele perecerá para sempre,
como o seu próprio excremento;
os que o tinham visto perguntarão:
‘Onde ele foi parar?’
8
Ele voa e vai-se como um sonho,
para nunca mais ser encontrado,
banido como uma visão noturna.
9
O olho que o viu não o verá mais,
nem o seu lugar o tornará a ver.
10
Seus filhos terão que indenizar
os pobres;
ele próprio, com suas mãos,
terá que refazer sua riqueza.
11
O vigor juvenil que enche
os seus ossos
jazerá com ele no pó.
12
“Mesmo que o mal seja doce13
mesmo que o retenha na boca
para saboreá-lo,
14
ainda assim a sua comida azedará
no estômago;
e será como veneno de cobra
em seu interior.
15
Ele vomitará as riquezas
que engoliu;
Deus fará seu estômago lançá-las fora.
16
Sugará veneno de cobra;
as presas de uma víbora o matarão.
17
Não terá gosto na contemplação
dos regatos
e dos rios que vertem mel e nata.
18
Terá que devolver
aquilo pelo que lutou,
sem aproveitá-lo,
e não desfrutará dos lucros
do seu comércio.
19
Sim, pois ele tem oprimido os pobres
e os tem deixado desamparados;
apoderou-se de casas
que não construiu.
20
“Certo é que a sua cobiça21
Nada lhe restou para devorar;
sua prosperidade não durará muito.
22
Em meio à sua fartura,
a aflição o dominará;
a força total da desgraça o atingirá.
23
Quando ele estiver
de estômago cheio,
Deus dará vazão
às tremendas chamas de sua ira
e sobre ele despejará o seu furor.
24
Se escapar da arma de ferro,
o bronze da sua flecha o atravessará.
25
Ele a arrancará das suas costas,
a ponta reluzente saindo do seu fígado.
Grande pavor virá sobre ele;
26
densas trevas estarão à espera
dos seus tesouros.
Um fogo não assoprado o consumirá
e devorará o que sobrar em sua tenda.
27
Os céus revelarão a sua culpa;
a terra se levantará contra ele.
28
Uma inundação arrastará a sua casa,
águas avassaladoras ,
no dia da ira de Deus.
29
Esse é o destino que Deus dá aos ímpios,
é a herança designada por Deus
para eles”.
1
Então Jó respondeu:2
“Escutem com atenção
as minhas palavras;
seja esse o consolo
que vocês haverão de dar-me.
3
Suportem-me enquanto
eu estiver falando;
depois que eu falar
poderão zombar de mim.
4
“Acaso é dos homens que me queixo?5
Olhem para mim e ficarão atônitos;
tapem a boca com a mão.
6
Quando penso nisso, fico aterrorizado;
todo o meu corpo se põe a tremer.
7
Por que vivem os ímpios?
Por que chegam à velhice
e aumentam seu poder?
8
Eles veem os seus filhos
estabelecidos ao seu redor
e os seus descendentes
diante dos seus olhos.
9
Seus lares estão seguros
e livres do medo;
a vara de Deus não os vem ferir.
10
Seus touros nunca deixam
de procriar;
suas vacas dão crias e não abortam.
11
Eles soltam os seus filhos
como um rebanho;
seus pequeninos põem-se a dançar.
12
Cantam, acompanhando a música
do tamborim e da harpa;
alegram-se ao som da flauta.
13
Os ímpios passam a vida na prosperidade
e descem à sepultura em paz .
14
Contudo, dizem eles a Deus:
‘Deixa-nos! Não queremos conhecer
os teus caminhos.
15
Quem é o Todo-poderoso,
para que o sirvamos?
Que vantagem temos em orar a Deus?’
16
Mas não depende deles
a prosperidade que desfrutam;
por isso fico longe
do conselho dos ímpios.
17
“Pois, quantas vezes18
Quantas vezes o vento
os leva como palha,
e o furacão os arrebata como cisco?
19
Dizem que Deus
reserva o castigo de um homem
para os seus filhos.
Que o próprio pai o receba,
para que aprenda a lição!
20
Que os seus próprios olhos
vejam a sua ruína;
que ele mesmo beba da ira
do Todo-poderoso!
21
Pois, que lhe importará a família
que deixará atrás de si
quando chegarem ao fim os meses
que lhe foram destinados?
22
“Haverá alguém que o ensine23
Um homem morre em pleno vigor,
quando se sentia bem e seguro,
24
tendo o corpo bem nutrido
e os ossos cheios de tutano.
25
Já outro morre
tendo a alma amargurada,
sem nada ter desfrutado.
26
Um e outro jazem no pó,
ambos cobertos de vermes.
27
“Sei muito bem28
‘Onde está agora a casa
do grande homem?’, vocês perguntam.
‘Onde a tenda dos ímpios?’
29
Vocês nunca fizeram perguntas
aos que viajam?
Não deram atenção ao que eles contam?
30
Pois eles dizem que o mau é poupado
da calamidade
e que do dia da ira recebe livramento.
31
Quem o acusa, lançando em rosto
a sua conduta?
Quem lhe retribui o mal que fez?
32
Pois o levam para o túmulo
e vigiam a sua sepultura.
33
Para ele é macio o terreno do vale;
todos o seguem,
e uma multidão incontável o precede.
34
“Por isso, como podem vocês1
Então, Elifaz, de Temã, respondeu:2
“Pode alguém ser útil a Deus?
Mesmo um sábio,
pode ser-lhe de algum proveito?
3
Que prazer você daria
ao Todo-poderoso
se você fosse justo?
Que é que ele ganharia se os seus
caminhos fossem irrepreensíveis?
4
“É por sua piedade5
Não é grande a sua maldade?
Não são infindos os seus pecados?
6
Sem motivo você exigia penhores
dos seus irmãos;
você despojava das roupas
os que quase nenhuma tinham.
7
Você não deu água ao sedento
e reteve a comida do faminto,
8
sendo você poderoso, dono de terras
e delas vivendo, e honrado
diante de todos.
9
Você mandou embora de mãos vazias
as viúvas
e quebrou a força dos órfãos.
10
Por isso está cercado de armadilhas
e o perigo repentino o apavora.
11
Também por isso você se vê envolto
em escuridão que o cega,
e o cobrem as águas,
em tremenda inundação.
12
“Não está Deus nas alturas dos céus?13
Contudo, você diz:
‘O que sabe Deus?
Poderá julgar através
de tão grande escuridão?
14
Nuvens espessas o cobrem,
e ele não pode ver-nos
quando percorre a abóbada dos céus’.
15
Você vai continuar
no velho caminho
que os perversos palmilharam?
16
Estes foram levados antes da hora;
seus alicerces foram arrastados
por uma enchente.
17
Eles disseram a Deus: ‘Deixa-nos!
O que o Todo-poderoso
poderá fazer conosco?’
18
Contudo, foi ele que encheu
de bens as casas deles;
por isso fico longe
do conselho dos ímpios.
19
“Os justos veem a ruína deles20
‘Certo é que os nossos inimigos
foram destruídos,
e o fogo devorou a sua riqueza’.
21
“Sujeite-se a Deus,22
Aceite a instrução
que vem da sua boca
e ponha no coração
as suas palavras.
23
Se você voltar
para o Todo-poderoso,
voltará ao seu lugar.
Se afastar da sua tenda a injustiça,
24
lançar ao pó as suas pepitas,
o seu ouro puro de Ofir
às rochas dos vales,
25
o Todo-poderoso será o seu ouro,
será para você prata seleta.
26
É certo que você achará prazer
no Todo-poderoso
e erguerá o rosto para Deus.
27
A ele orará, e ele o ouvirá,
e você cumprirá os seus votos.
28
O que você decidir se fará,
e a luz brilhará em seus caminhos.
29
Quando os homens
forem humilhados
e você disser: ‘Levanta-os!’,
ele salvará o abatido.
30
Livrará até o que não é inocente,
que será liberto graças à pureza
que há em você, nas suas mãos”.
1
Então Jó respondeu:2
“Até agora me queixo com amargura;
a mão dele é pesada,
a despeito de meu gemido.
3
Se tão somente eu soubesse
onde encontrá-lo e como ir à sua habitação!
4
Eu lhe apresentaria a minha causa
e encheria a minha boca
de argumentos.
5
Estudaria o que ele me respondesse
e analisaria o que me dissesse.
6
Será que ele se oporia a mim
com grande poder?
Não, ele não me faria acusações.
7
O homem íntegro poderia
apresentar-lhe sua causa;
eu seria liberto para sempre
de quem me julga.
8
“Mas, se vou para o oriente,9
Quando ele está em ação no norte,
não o enxergo;
quando vai para o sul,
nem sombra dele eu vejo!
10
Mas ele conhece o caminho
por onde ando;
se me puser à prova,
aparecerei como o ouro.
11
Meus pés seguiram de perto
as suas pegadas;
mantive-me no seu caminho
sem desviar-me.
12
Não me afastei dos mandamentos
dos seus lábios;
dei mais valor às palavras de sua boca
do que ao meu pão de cada dia.
13
“Mas ele é ele!14
Executa o seu decreto contra mim
e tem muitos outros planos semelhantes.
15
Por isso fico apavorado diante dele;
pensar nisso me enche de medo.
16
Deus fez desmaiar o meu coração;
o Todo-poderoso causou-me pavor.
17
Contudo, não fui silenciado
pelas trevas,
pelas densas trevas
que cobrem o meu rosto.
1
“Por que o Todo-poderoso2
Há os que mudam
os marcos dos limites
e apascentam rebanhos
que eles roubaram.
3
Levam o jumento
que pertence ao órfão
e tomam o boi da viúva como penhor.
4
Forçam os necessitados
a sair do caminho
e os pobres da terra a esconder-se.
5
Como jumentos selvagens no deserto,
os pobres vão em busca de comida;
da terra deserta a obtêm
para os seus filhos.
6
Juntam forragem nos campos
e respigam nas vinhas dos ímpios.
7
Pela falta de roupas,
passam a noite nus;
não têm com que cobrir-se no frio.
8
Encharcados pelas chuvas
das montanhas,
abraçam-se às rochas
por falta de abrigo.
9
A criança órfã é arrancada
do seio de sua mãe;
o recém-nascido do pobre é tomado
para pagar uma dívida.
10
Por falta de roupas, andam nus;
carregam os feixes,
mas continuam famintos.
11
Espremem azeitonas
dentro dos seus muros ;
pisam uvas nos lagares,
mas assim mesmo sofrem sede.
12
Sobem da cidade os gemidos
dos que estão para morrer,
e as almas dos feridos
clamam por socorro.
Mas Deus não vê mal nisso.
13
“Há os que se revoltam14
De manhã o assassino se levanta
e mata os pobres e os necessitados;
de noite age como ladrão.
15
Os olhos do adúltero
ficam à espera do crepúsculo;
‘Nenhum olho me verá’, pensa ele;
e mantém oculto o rosto.
16
No escuro os homens invadem casas,
mas de dia se enclausuram;
não querem saber da luz.
17
Para eles a manhã
é tremenda escuridão;
eles são amigos
dos pavores das trevas.
18
“São, porém, como espuma19
Assim como o calor e a seca
depressa consomem a neve derretida,
assim a sepultura consome
os que pecaram.
20
Sua mãe os esquece,
os vermes se banqueteiam neles.
Ninguém se lembra dos maus;
quebram-se como árvores.
21
Devoram a estéril e sem filhos
e não mostram bondade
para com a viúva.
22
Mas Deus, por seu poder, os arranca;
embora firmemente estabelecidos,
a vida deles não tem segurança.
23
Ele poderá deixá-los descansar,
sentindo-se seguros,
mas atento os vigia
nos caminhos que seguem.
24
Por um breve instante são exaltados
e depois se vão,
colhidos como todos os demais,
ceifados como espigas de cereal.
25
“Se não é assim,1
Então Bildade, de Suá, respondeu:2
“O domínio e o temor pertencem
a Deus;
ele impõe ordem nas alturas,
que a ele pertencem.
3
Seria possível contar
os seus exércitos?
E a sua luz, sobre quem
não se levanta?
4
Como pode então o homem
ser justo diante de Deus?
Como pode ser puro
quem nasce de mulher?
5
Se nem a lua é brilhante
e nem as estrelas são puras
aos olhos dele,
6
muito menos o será o homem,
que não passa de larva,
o filho do homem,
que não passa de verme!”
1
Então Jó respondeu:2
“Grande foi a ajuda que você deu
ao desvalido!
Que socorro você prestou
ao braço frágil!
3
Belo conselho você ofereceu
a quem não é sábio,
e que grande sabedoria você revelou!
4
Quem o ajudou a proferir
essas palavras,
e por meio de que espírito
você falou?
5
“Os mortos estão em grande angústia6
Nu está o Sheol diante de Deus,
e nada encobre a Destruição .
7
Ele estende os céus do norte
sobre o espaço vazio;
suspende a terra sobre o nada.
8
Envolve as águas em suas nuvens,
e estas não se rompem
sob o peso delas.
9
Ele cobre a face da lua cheia
estendendo sobre ela as suas nuvens.
10
Traça o horizonte
sobre a superfície das águas
para servir de limite
entre a luz e as trevas.
11
As colunas dos céus estremecem
e ficam perplexas
diante da sua repreensão.
12
Com seu poder agitou
violentamente o mar;
com sua sabedoria
despedaçou o Monstro dos Mares .
13
Com seu sopro
os céus ficaram límpidos;
sua mão feriu a serpente arisca.
14
E isso tudo é apenas
a borda de suas obras!
Um suave sussurro
é o que ouvimos dele.
Mas quem poderá compreender
o trovão do seu poder?”
1
E Jó prosseguiu em seu discurso:2
“Pelo Deus vivo,
que me negou justiça,
pelo Todo-poderoso,
que deu amargura à minha alma,
3
enquanto eu tiver vida em mim,
o sopro de Deus em minhas narinas,
4
meus lábios não falarão maldade,
e minha língua não proferirá
nada que seja falso.
5
Nunca darei razão a vocês!
Minha integridade não negarei jamais,
até a morte.
6
Manterei minha retidão
e nunca a deixarei;
enquanto eu viver,
a minha consciência
não me repreenderá.
7
“Sejam os meus inimigos8
Pois, qual é a esperança do ímpio,
quando é eliminado,
quando Deus lhe tira a vida?
9
Ouvirá Deus o seu clamor
quando vier sobre ele a aflição?
10
Terá ele prazer no Todo-poderoso?
Chamará a Deus a cada instante?
11
“Eu os instruirei12
Pois a verdade é que todos vocês
já viram isso.
Então por que essa conversa
sem sentido?
13
“Este é o destino14
Por mais filhos que o ímpio tenha,
o destino deles é a espada;
sua prole jamais
terá comida suficiente.
15
A epidemia sepultará aqueles
que lhe sobreviverem,
e as suas viúvas não chorarão por eles.
16
Ainda que ele acumule
prata como pó
e amontoe roupas como barro,
17
o que ele armazenar ficará para os justos,
e os inocentes dividirão sua prata.
18
A casa que ele constrói
é como casulo de traça,
como cabana feita pela sentinela.
19
Rico ele se deita, mas nunca mais o será!
Quando abre os olhos, tudo se foi.
20
Pavores vêm sobre ele
como uma enchente;
de noite a tempestade o leva de roldão.
21
O vento oriental o leva,
e ele desaparece;
arranca-o do seu lugar.
22
Atira-se contra ele sem piedade,
enquanto ele foge às pressas
do seu poder.
23
Bate palmas contra ele
e com assobios o expele do seu lugar.
1
“Existem minas de prata2
O ferro é extraído da terra,
e do minério se funde o cobre.
3
O homem dá fim à escuridão
e vasculha os recônditos mais remotos
em busca de minério,
nas mais escuras trevas.
4
Longe das moradias
ele cava um poço,
em local esquecido
pelos pés dos homens;
longe de todos,
ele se pendura e balança.
5
A terra, da qual vem o alimento,
é revolvida embaixo
como que pelo fogo;
6
das suas rochas saem safiras,
e seu pó contém pepitas de ouro.
7
Nenhuma ave de rapina conhece
aquele caminho oculto,
e os olhos de nenhum falcão o viram.
8
Os animais altivos
não põem os pés nele,
e nenhum leão ronda por ali.
9
As mãos dos homens
atacam a dura rocha
e transtornam as raízes das montanhas.
10
Fazem túneis através da rocha,
e os seus olhos enxergam todos
os tesouros dali.
11
Eles vasculham as nascentes
dos rios
e trazem à luz coisas ocultas.
12
“Onde, porém, se poderá13
O homem não percebe
o valor da sabedoria;
ela não se encontra
na terra dos viventes.
14
O abismo diz: ‘Em mim não está’;
o mar diz: ‘Não está comigo’.
15
Não pode ser comprada,
mesmo com o ouro mais puro,
nem se pode pesar o seu preço
em prata.
16
Não pode ser comprada
nem com o ouro puro de Ofir,
nem com o precioso ônix,
nem com safiras.
17
O ouro e o cristal
não se comparam com ela,
e é impossível tê-la em troca
de joias de ouro.
18
O coral e o jaspe
nem merecem menção;
o preço da sabedoria
ultrapassa o dos rubis.
19
O topázio da Etiópia
não se compara com ela;
não se compra a sabedoria
nem com ouro puro!
20
“De onde vem, então, a sabedoria?21
Escondida está dos olhos
de toda criatura viva,
até das aves dos céus.
22
A Destruição e a Morte dizem:
‘Aos nossos ouvidos só chegou
um leve rumor dela’.
23
Deus conhece o caminho;
só ele sabe onde ela habita,
24
pois ele enxerga os confins da terra
e vê tudo o que há debaixo dos céus.
25
Quando ele determinou
a força do vento
e estabeleceu a medida exata
para as águas,
26
quando fez um decreto para a chuva
e o caminho
para a tempestade trovejante,
27
ele olhou para a sabedoria
e a avaliou;
confirmou-a e a pôs à prova.
28
Disse então ao homem:
‘No temor do Senhor
está a sabedoria,
e evitar o mal é ter entendimento’ ”.
1
Jó prosseguiu sua fala:2
“Como tenho saudade
dos meses que se passaram,
dos dias em que Deus
cuidava de mim,
3
quando a sua lâmpada brilhava
sobre a minha cabeça
e por sua luz eu caminhava
em meio às trevas!
4
Como tenho saudade
dos dias do meu vigor,
quando a amizade de Deus
abençoava a minha casa,
5
quando o Todo-poderoso
ainda estava comigo
e meus filhos estavam ao meu redor,
6
quando as minhas veredas
se embebiam em nata
e a rocha me despejava
torrentes de azeite.
7
“Quando eu ia à porta da cidade8
quando, ao me verem,
os jovens saíam do caminho,
e os idosos ficavam em pé;
9
os líderes se abstinham de falar
e com a mão cobriam a boca.
10
As vozes dos nobres silenciavam,
e suas línguas
colavam-se ao céu da boca.
11
Todos os que me ouviam
falavam bem de mim,
e quem me via me elogiava,
12
pois eu socorria o pobre
que clamava por ajuda
e o órfão que não tinha
quem o ajudasse.
13
O que estava à beira da morte me abençoava,
e eu fazia regozijar-se o coração
da viúva.
14
A retidão era a minha roupa;
a justiça era o meu manto e
o meu turbante.
15
Eu era os olhos do cego
e os pés do aleijado.
16
Eu era o pai dos necessitados
e me interessava
pela defesa de desconhecidos.
17
Eu quebrava as presas dos ímpios
e dos seus dentes arrancava
as suas vítimas.
18
“Eu pensava: Morrerei em casa,19
Minhas raízes chegarão até as águas,
e o orvalho passará a noite
nos meus ramos.
20
Minha glória se renovará em mim,
e novo será o meu arco
em minha mão.
21
“Os homens me escutavam22
Depois que eu falava,
eles nada diziam;
minhas palavras caíam suavemente
em seus ouvidos.
23
Esperavam por mim
como quem espera
por uma chuvarada
e bebiam minhas palavras
como quem bebe a chuva
da primavera.
24
Quando eu lhes sorria,
mal acreditavam;
a luz do meu rosto lhes era preciosa.
25
Era eu que escolhia o caminho
para eles
e me assentava como seu líder;
instalava-me como um rei
no meio das suas tropas;
eu era como um consolador
dos que choram.
1
“Mas agora eles zombam de mim,2
De que me serviria
a força de suas mãos,
já que desapareceu o seu vigor?
3
Desfigurados
de tanta necessidade e fome,
perambulavam pela terra ressequida,
em sombrios e devastados desertos.
4
Nos campos de mato rasteiro
colhiam ervas,
e a raiz da giesta era a sua comida .
5
Da companhia dos amigos
foram expulsos aos gritos,
como se fossem ladrões.
6
Foram forçados a morar
nos leitos secos dos rios,
entre as rochas e nos buracos da terra.
7
Rugiam entre os arbustos
e se encolhiam sob a vegetação.
8
Prole desprezível e sem nome,
foram expulsos da terra.
9
“E agora os filhos deles10
Eles me detestam
e se mantêm a distância;
não hesitam em cuspir em meu rosto.
11
Agora que Deus afrouxou
a corda do meu arco e me afligiu,
eles ficam sem freios
na minha presença.
12
À direita os embrutecidos
me atacam;
preparam armadilhas
para os meus pés
e constroem rampas de cerco
contra mim.
13
Destroem o meu caminho;
conseguem destruir-me
sem a ajuda de ninguém.
14
Avançam como através
de uma grande brecha;
arrojam-se entre as ruínas.
15
Pavores apoderam-se de mim;
a minha dignidade é levada
como pelo vento,
a minha segurança
se desfaz como nuvem.
16
“E agora esvai-se a minha vida;17
A noite penetra os meus ossos;
minhas dores me corroem sem cessar.
18
Em seu grande poder,
Deus é como a minha roupa ;
ele me envolve
como a gola da minha veste.
19
Lança-me na lama,
e sou reduzido a pó e cinza.
20
“Clamo a ti, ó Deus,21
Contra mim te voltas com dureza
e me atacas com a força de tua mão.
22
Tu me apanhas
e me levas contra o vento
e me jogas de um lado a outro
na tempestade.
23
Sei que me farás descer até a morte,
ao lugar destinado a todos os viventes.
24
“A verdade é que ninguém dá a mão25
Não é certo que chorei por causa
dos que passavam dificuldade?
E que a minha alma se entristeceu
por causa dos pobres?
26
Mesmo assim,
quando eu esperava o bem,
veio o mal;
quando eu procurava luz,
vieram trevas.
27
Nunca para a agitação
dentro de mim;
dias de sofrimento me confrontam.
28
Perambulo escurecido,
mas não pelo sol;
levanto-me na assembleia
e clamo por ajuda.
29
Tornei-me irmão dos chacais,
companheiro das corujas.
30
Minha pele escurece e cai;
meu corpo queima de febre.
31
Minha harpa está afinada
para cantos fúnebres,
e minha flauta para o som de pranto.
1
“Fiz acordo com os meus olhos2
Pois qual é a porção que o homem
recebe de Deus lá de cima?
Qual a sua herança do Todo-poderoso,
que habita nas alturas?
3
Não é ruína para os ímpios,
desgraça para os que fazem o mal?
4
Não vê ele os meus caminhos
e não considera
cada um de meus passos?
5
“Se me conduzi com falsidade,6
Deus me pese em balança justa,
e saberá que não tenho culpa—
7
se meus passos
desviaram-se do caminho,
se o meu coração foi conduzido
por meus olhos,
ou se minhas mãos
foram contaminadas,
8
que outros comam o que semeei
e que as minhas plantações
sejam arrancadas pelas raízes.
9
“Se o meu coração10
que a minha esposa moa cereal
de outro homem,
e que outros durmam com ela.
11
Pois fazê-lo seria vergonhoso,
crime merecedor de julgamento.
12
Isso é um fogo que consome
até a Destruição ;
teria extirpado a minha colheita.
13
“Se neguei justiça14
que farei quando Deus
me confrontar?
Que responderei quando chamado
a prestar contas?
15
Aquele que me fez no ventre materno
não os fez também?
Não foi ele que nos formou,
a mim e a eles,
no interior de nossas mães?
16
“Se não atendi os desejos do pobre,17
se comi meu pão sozinho,
sem compartilhá-lo com o órfão,
18
sendo que desde a minha juventude o criei
como se fosse seu pai,
e desde o nascimento guiei a viúva;
19
se vi alguém morrendo
por falta de roupa,
ou um necessitado sem cobertor,
20
e o seu coração não me abençoou
porque o aqueci com a lã
de minhas ovelhas,
21
se levantei a mão contra o órfão,
ciente da minha influência no tribunal,
22
que o meu braço descaia do ombro
e se quebre nas juntas.
23
Pois eu tinha medo
que Deus me destruísse,
e, temendo o seu esplendor,
não podia fazer tais coisas.
24
“Se pus no ouro a minha confiança25
se me regozijei
por ter grande riqueza,
pela fortuna que as minhas mãos
obtiveram,
26
se contemplei o sol em seu fulgor
e a lua a mover-se esplêndida,
27
e em segredo o meu coração
foi seduzido
e a minha mão lhes ofereceu
beijos de veneração,
28
esses também seriam pecados
merecedores de condenação,
pois eu teria sido infiel a Deus,
que está nas alturas.
29
“Se a desgraça do meu inimigo30
eu, que nunca deixei minha boca pecar,
lançando maldição sobre ele;
31
se os que moram em minha casa
nunca tivessem dito:
‘Quem não recebeu de Jó
um pedaço de carne?’,
32
sendo que nenhum estrangeiro
teve que passar a noite na rua,
pois a minha porta
sempre esteve aberta para o viajante;
33
se escondi o meu pecado,
como outros fazem ,
acobertando no coração
a minha culpa,
34
com tanto medo da multidão
e do desprezo dos familiares
que me calei e não saí de casa…
35
(“Ah, se alguém me ouvisse!36
Eu bem que a levaria nos ombros
e a usaria como coroa.
37
Eu lhe falaria
sobre todos os meus passos;
como um príncipe
eu me aproximaria dele.)
38
“Se a minha terra se queixar de mim39
se consumi os seus produtos
sem nada pagar,
ou se causei desânimo
aos seus ocupantes,
40
que me venham espinhos
em lugar de trigo
e ervas daninhas em lugar de cevada”.
1
Então esses três homens pararam de responder a Jó, pois este se julgava justo.2 Mas Eliú, filho de Baraquel, de Buz, da família de Rão, indignou-se muito contra Jó, porque este se justificava diante de Deus.
3 Também se indignou contra os três amigos, pois não encontraram meios de refutar Jó, e mesmo assim o tinham condenado.
4 Eliú tinha ficado esperando para falar a Jó porque eles eram mais velhos que ele.
5 Mas, quando viu que os três não tinham mais nada a dizer, indignou-se.
6
Então Eliú, filho de Baraquel, de Buz, falou: “Eu sou jovem, vocês têm idade.7
Os que têm idade é que devem falar,
pensava eu,
os anos avançados é que devem
ensinar sabedoria.
8
Mas é o espírito dentro do homem
que lhe dá entendimento;
o sopro do Todo-poderoso.
9
Não são só os mais velhos , os sábios,
não são só os de idade
que entendem o que é certo.
10
“Por isso digo: Escutem-me;11
Enquanto vocês estavam falando,
esperei;
fiquei ouvindo os seus arrazoados;
enquanto vocês estavam
procurando palavras,
12
escutei suas palavras com toda atenção.
Mas nenhum de vocês
demonstrou que Jó está errado.
Nenhum de vocês respondeu
aos seus argumentos.
13
Não digam: ‘Encontramos
a sabedoria;
que Deus o refute, não o homem’.
14
Só que não foi contra mim
que Jó dirigiu as suas palavras,
e não vou responder a ele
com os argumentos de vocês.
15
“Vejam, eles estão consternados16
Devo aguardar,
agora que estão calados
e sem resposta?
17
Também vou dar a minha opinião,
também vou dizer o que sei,
18
pois não me faltam palavras,
e dentro de mim o espírito
me impulsiona.
19
Por dentro estou
como vinho arrolhado,
como odres novos
prestes a romper.
20
Tenho que falar; isso me aliviará.
Tenho que abrir os lábios e responder.
21
Não serei parcial com ninguém
e a ninguém bajularei,
22
porque não sou bom em bajular;
se fosse, o meu Criador
em breve me levaria.
1
“Mas agora, Jó,2
Estou prestes a abrir a boca;
minhas palavras
estão na ponta da língua.
3
Minhas palavras procedem
de um coração íntegro;
meus lábios falam com sinceridade
o que eu sei.
4
O Espírito de Deus me fez;
o sopro do Todo-poderoso me dá vida.
5
Responda-me, então, se puder;
prepare-se para enfrentar-me.
6
Sou igual a você diante de Deus;
eu também fui feito do barro.
7
Por isso não devo inspirar nenhum temor,
e a minha mão não há de ser pesada
sobre você.
8
“Mas você disse ao meu alcance;9
‘Estou limpo e sem pecado;
estou puro e sem culpa.
10
Contudo, Deus procurou em mim
motivos para inimizade;
ele me considera seu inimigo.
11
Ele acorrenta os meus pés;
vigia de perto
todos os meus caminhos’.
12
“Mas eu digo13
Por que você se queixa a ele
de que não responde
às palavras dos homens?
14
Pois a verdade é que Deus fala,
ora de um modo, ora de outro,
mesmo que o homem não o perceba.
15
Em sonho ou em visão
durante a noite,
quando o sono profundo
cai sobre os homens
e eles dormem em suas camas,
16
ele pode falar aos ouvidos deles
e aterrorizá-los com advertências,
17
para prevenir o homem
das suas más ações
e livrá-lo do orgulho,
18
para preservar da cova a sua alma,
e a sua vida da espada.
19
Ou o homem pode ser castigado
no leito de dor,
com os seus ossos
em constante agonia,
20
sendo levado a achar a comida repulsiva
e a detestar na alma
sua refeição preferida.
21
Já não se vê sua carne,
e seus ossos, que não se viam,
agora aparecem.
22
Sua alma aproxima-se da cova,
e sua vida, dos mensageiros da morte.
23
“Havendo, porém, um anjo24
para ser-lhe favorável e dizer:
‘Poupa-o de descer à cova;
encontrei resgate para ele’,
25
então sua carne se renova
voltando a ser como de criança;
ele se rejuvenesce.
26
Ele ora a Deus e recebe o seu favor;
vê o rosto de Deus
e dá gritos de alegria,
e Deus lhe restitui a condição de justo.
27
Depois ele vem aos homens e diz:
‘Pequei e torci o que era certo,
mas ele não me deu o que eu merecia.
28
Ele resgatou a minha alma,
impedindo-a de descer à cova,
e viverei para desfrutar a luz’.
29
“Deus faz dessas coisas ao homem,30
para recuperar sua alma da cova,
a fim de que refulja sobre ele
a luz da vida.
31
“Preste atenção, Jó, e escute-me;32
Se você tem algo para dizer,
responda-me;
fale logo, pois quero que você
seja absolvido.
33
Se não tem nada para dizer, ouça-me,
fique em silêncio,
e eu ensinarei
a sabedoria a você”.
1
Eliú continuou:2
“Ouçam as minhas palavras,
vocês que são sábios;
escutem-me,
vocês que têm conhecimento.
3
Pois o ouvido prova as palavras
como a língua prova o alimento.
4
Tratemos de discernir juntos
o que é certo
e de aprender o que é bom.
5
“Jó afirma: ‘Sou inocente,6
Apesar de eu estar certo,
sou considerado mentiroso;
apesar de estar sem culpa,
sua flecha me causa ferida incurável’.
7
Que homem existe como Jó,
que bebe zombaria como água?
8
Ele é companheiro
dos que fazem o mal
e anda com os ímpios.
9
Pois diz: ‘Não dá lucro
agradar a Deus’.
10
“Por isso escutem-me,11
Ele retribui ao homem
conforme o que este fez,
e lhe dá o que a sua conduta merece.
12
Não se pode nem pensar
que Deus faça o mal,
que o Todo-poderoso
perverta a justiça.
13
Quem o nomeou
para governar a terra?
Quem o encarregou de cuidar
do mundo inteiro?
14
Se fosse intenção dele,
e de fato retirasse o seu espírito
e o seu sopro,
15
a humanidade pereceria
toda de uma vez,
e o homem voltaria ao pó.
16
“Portanto, se você17
Acaso quem odeia a justiça
poderá governar?
Você ousará condenar
aquele que é justo e poderoso?
18
Não é ele que diz aos reis:
‘Vocês nada valem’,
e aos nobres: ‘Vocês são ímpios’?
19
Não é verdade que ele não mostra
parcialidade a favor dos príncipes
e não favorece o rico
em detrimento do pobre,
uma vez que todos
são obra de suas mãos?
20
Morrem num momento,
em plena noite;
cambaleiam e passam.
Os poderosos são retirados
sem a intervenção de mãos humanas.
21
“Pois Deus vê o caminho22
Não há sombra densa o bastante,
onde os que fazem o mal
possam esconder-se.
23
Deus não precisa de maior tempo
para examinar os homens
e levá-los à sua presença
para julgamento.
24
Sem depender de investigações,
ele destrói os poderosos
e coloca outros em seu lugar.
25
Visto que ele repara nos atos
que eles praticam,
derruba-os, e eles são esmagados.
26
Pela impiedade deles,
ele os castiga onde todos
podem vê-los.
27
Isso porque deixaram de segui-lo
e não deram atenção aos caminhos
por ele traçados.
28
Fizeram chegar a ele
o grito do pobre,
e ele ouviu o clamor do necessitado.
29
Mas, se ele permanecer calado,
quem poderá condená-lo?
Se esconder o rosto,
quem poderá vê-lo?
No entanto, ele domina igualmente
sobre homens e nações,
30
para evitar que o ímpio governe
e prepare armadilhas para o povo.
31
“Suponhamos que um homem32
Mostra-me o que não estou vendo;
se agi mal, não tornarei a fazê-lo’.
33
Quanto a você,
deveria Deus recompensá-lo
quando você nega a sua culpa?
É você que deve decidir, não eu;
conte-me, pois, o que você sabe.
34
“Os homens de bom senso,35
‘Jó não sabe o que diz;
não há discernimento em suas palavras’.
36
Ah, se Jó sofresse a mais dura prova,
por sua resposta de ímpio!
37
Ao seu pecado ele acrescenta
a revolta;
com desprezo bate palmas entre nós
e multiplica suas palavras
contra Deus”.
1
Eliú prosseguiu:2
“Você acha que isso é justo?
Pois você diz:
‘Serei absolvido por Deus’.
3
Contudo, você lhe pergunta:
‘Que vantagem tenho eu ,
e o que ganho, se não pecar?’
4
“Desejo responder5
Olhe para os céus e veja;
mire as nuvens, tão elevadas.
6
Se você pecar, em que isso o afetará?
Se os seus pecados forem muitos,
que é que isso lhe fará?
7
Se você for justo, o que lhe dará?
Ou o que ele receberá de sua mão?
8
A sua impiedade só afeta aos homens,
seus semelhantes,
e a sua justiça, aos filhos dos homens.
9
“Os homens se lamentam10
Mas não há quem pergunte:
‘Onde está Deus, o meu Criador,
que de noite faz surgirem cânticos,
11
que nos ensina mais
que aos animais da terra
e nos faz mais sábios
que as aves dos céus?’
12
Quando clamam, ele não responde,
por causa da arrogância dos ímpios.
13
Aliás, Deus não escuta
a vã súplica que fazem;
o Todo-poderoso não lhes dá atenção.
14
Pois muito menos escutará
quando você disser que não o vê,
que a sua causa está diante dele
e que você tem que esperar por ele.
15
Mais que isso,
que a sua ira jamais castiga
e que ele não dá a mínima atenção
à iniquidade.
16
Assim é que Jó abre a sua boca
para dizer palavras vãs;
em sua ignorância
ele multiplica palavras”.
1
Disse mais Eliú:2
“Peço-lhe que seja um pouco mais
paciente comigo,
e mostrarei a você que se pode dizer
mais verdades em defesa de Deus.
3
Vem de longe o meu conhecimento;
atribuirei justiça ao meu Criador.
4
Não tenha dúvida,
as minhas palavras não são falsas;
quem está com você
é a perfeição no conhecimento.
5
“Deus é poderoso,6
Não poupa a vida dos ímpios,
mas garante os direitos dos aflitos.
7
Não tira os seus olhos do justo;
ele o coloca nos tronos com os reis
e o exalta para sempre.
8
Mas, se os homens
forem acorrentados,
presos firmemente
com as cordas da aflição,
9
ele lhes dirá o que fizeram,
que pecaram com arrogância.
10
Ele os fará ouvir a correção
e lhes ordenará que se arrependam
do mal que praticaram.
11
Se lhe obedecerem e o servirem,
serão prósperos até o fim dos seus dias
e terão contentamento
nos anos que lhes restam.
12
Mas, se não obedecerem,
perecerão à espada
e morrerão na ignorância.
13
“Os que têm coração ímpio14
Morrem em plena juventude
entre os prostitutos dos santuários.
15
Mas aos que sofrem
ele os livra
em meio ao sofrimento;
em sua aflição ele lhes fala.
16
“Ele o está atraindo17
Mas, agora, farto sobre você
é o julgamento que cabe aos ímpios;
o julgamento e a justiça o pegaram.
18
Cuidado!
Que ninguém o seduza com riquezas;
não se deixe desviar por suborno,
por maior que este seja.
19
Acaso a sua riqueza, ou mesmo
todos os seus grandes esforços,
dariam a você apoio
e alívio da aflição?
20
Não anseie pela noite,
quando o povo é tirado dos seus lares.
21
Cuidado! Não se volte
para a iniquidade,
que você parece preferir à aflição.
22
“Deus é exaltado em seu poder.23
Quem lhe prescreveu
os seus caminhos
ou lhe disse: ‘Agiste mal’?
24
Lembre-se de exaltar as suas obras,
às quais os homens dedicam
cânticos de louvor.
25
Toda a humanidade as vê;
de lugares distantes
os homens as contemplam.
26
Como Deus é grande!
Ultrapassa o nosso entendimento!
Não há como calcular
os anos da sua existência.
27
“Ele atrai as gotas de água,28
as nuvens as despejam em aguaceiros
sobre a humanidade.
29
Quem pode entender
como ele estende as suas nuvens,
como ele troveja
desde o seu pavilhão?
30
Observe como ele espalha
os seus relâmpagos ao redor,
iluminando até as profundezas do mar.
31
É assim que ele governa as nações
e lhes fornece grande fartura.
32
Ele enche as mãos de relâmpagos
e lhes determina o alvo
que deverão atingir.
33
Seu trovão anuncia a tempestade
que está a caminho;
até o gado a pressente.
1
“Diante disso o meu coração2
Ouça! Escute o estrondo da sua voz,
o trovejar da sua boca.
3
Ele solta os seus relâmpagos
por baixo de toda a extensão do céu
e os manda para os confins da terra.
4
Depois vem o som
do seu grande estrondo:
ele troveja com sua majestosa voz.
Quando a sua voz ressoa,
nada o faz recuar.
5
A voz de Deus troveja
maravilhosamente;
ele faz coisas grandiosas,
acima do nosso entendimento.
6
Ele diz à neve: ‘Caia sobre a terra’,
e à chuva: ‘Seja um forte aguaceiro’.
7
Ele paralisa
o trabalho de cada homem,
a fim de que todos os que ele criou
conheçam a sua obra.
8
Os animais vão
para os seus esconderijos
e ficam nas suas tocas.
9
A tempestade sai da sua câmara,
e dos ventos vem o frio.
10
O sopro de Deus produz gelo,
e as vastas águas se congelam.
11
Também carrega de umidade
as nuvens,
e entre elas espalha
os seus relâmpagos.
12
Ele as faz girar, circulando
sobre a superfície de toda a terra,
para fazerem tudo
o que ele lhes ordenar.
13
Ele traz as nuvens,
ora para castigar os homens,
ora para regar a sua terra
e lhes mostrar o seu amor.
14
“Escute isto, Jó;15
Acaso você sabe como Deus
comanda as nuvens
e faz brilhar os seus relâmpagos?
16
Você sabe como ficam
suspensas as nuvens,
essas maravilhas daquele
que tem perfeito conhecimento?
17
Você, que em sua roupa
desfalece de calor
quando a terra fica amortecida
sob o vento sul,
18
pode ajudá-lo a estender os céus,
duros como espelho de bronze?
19
“Diga-nos o que devemos20
Deve-se dizer-lhe
o que lhe quero falar?
Quem pediria para ser devorado?
21
Ninguém pode olhar
para o fulgor do sol nos céus
depois que o vento os clareia.
22
Do norte vem luz dourada;
Deus vem em temível majestade.
23
Fora de nosso alcance
está o Todo-poderoso,
exaltado em poder;
mas, em sua justiça e retidão,
não oprime ninguém.
24
Por isso os homens o temem;
não dá ele atenção
a todos os sábios de coração? ”
1
Então o SENHOR respondeu a Jó do meio da tempestade e disse:2
“Quem é esse que obscurece
o meu conselho
com palavras sem conhecimento?
3
Prepare-se como simples homem;
vou fazer perguntas a você,
e você me responderá.
4
“Onde você estava quando lancei5
Quem marcou os limites
das suas dimensões?
Talvez você saiba!
E quem estendeu sobre ela
a linha de medir?
6
E os seus fundamentos,
sobre o que foram postos?
E quem colocou sua pedra de esquina,
7
enquanto as estrelas matutinas
juntas cantavam
e todos os anjos se regozijavam?
8
“Quem represou o mar9
quando o vesti de nuvens
e em densas trevas o envolvi,
10
quando fixei os seus limites
e lhe coloquei portas e barreiras,
11
quando eu lhe disse:
Até aqui você pode vir,
além deste ponto não;
aqui faço parar suas ondas orgulhosas?
12
“Você já deu ordens à manhã13
para que ela apanhasse a terra
pelas pontas
e sacudisse dela os ímpios?
14
A terra toma forma
como o barro sob o sinete;
e tudo nela se vê como uma veste.
15
Aos ímpios é negada a sua luz,
e quebra-se o seu braço levantado.
16
“Você já foi17
As portas da morte
foram mostradas a você?
Você viu as portas das densas trevas?
18
Você faz ideia de quão imensas
são as áreas da terra?
Fale-me, se é que você sabe.
19
“Como se vai ao lugar20
Poderá você conduzi-las
ao lugar que lhes pertence?
Conhece o caminho
da habitação delas?
21
Talvez você conheça,
pois você já tinha nascido!
Você já viveu tantos anos!
22
“Acaso você entrou23
que eu guardo para
os períodos de tribulação,
para os dias de guerra e de combate?
24
Qual o caminho
por onde se repartem
os relâmpagos?
Onde é que os ventos orientais
são distribuídos sobre a terra?
25
Quem é que abre um canal
para a chuva torrencial,
e um caminho
para a tempestade trovejante,
26
para fazer chover na terra
em que não vive nenhum homem,
no deserto onde não há ninguém,
27
para matar a sede do deserto árido
e nele fazer brotar vegetação?
28
Acaso a chuva tem pai?
Quem é o pai das gotas de orvalho?
29
De que ventre materno vem o gelo?
E quem dá à luz a geada
que cai dos céus,
30
quando as águas se tornam
duras como pedra
e a superfície do abismo se congela?
31
“Você pode amarrar32
Pode fazer surgir no tempo certo
as constelações
ou fazer sair a Ursa
com seus filhotes?
33
Você conhece as leis dos céus?
Você pode determinar
o domínio de Deus sobre a terra?
34
“Você é capaz de levantar a voz35
É você que envia os relâmpagos,
e eles respondem: ‘Aqui estamos’?
36
Quem foi que deu sabedoria
ao coração
e entendimento à mente?
37
Quem é que tem sabedoria
para avaliar as nuvens?
Quem é capaz de despejar
os cântaros de água dos céus,
38
quando o pó se endurece
e os torrões de terra
aderem uns aos outros?
39
“É você que caça a presa para a leoa40
quando se agacham em suas tocas
ou ficam à espreita no matagal?
41
Quem dá alimento aos corvos
quando os seus filhotes clamam a Deus
e vagueiam por falta de comida?
1
“Você sabe quando2
Acaso você conta os meses
até elas darem à luz?
Sabe em que época
elas têm as suas crias?
3
Elas se agacham,
dão à luz os seus filhotes,
e suas dores se vão.
4
Seus filhotes crescem nos campos
e ficam fortes;
partem, e não voltam mais.
5
“Quem pôs em liberdade6
Eu lhe dei o deserto como lar,
o leito seco de lagos salgados
como sua morada.
7
Ele se ri da agitação da cidade;
não ouve os gritos do tropeiro.
8
Vagueia pelas colinas
em busca de pasto
e vai em busca daquilo
que é verde.
9
“Será que o boi selvagem consentirá10
Poderá você prendê-lo
com arreio na vala?
Irá atrás de você arando os vales?
11
Você vai confiar nele,
por causa da sua grande força?
Vai deixar a cargo dele
o trabalho pesado
que você tem que fazer?
12
Poderá você estar certo
de que ele recolherá o seu trigo
e o ajuntará na sua eira?
13
“A avestruz14
Ela abandona os ovos no chão
e deixa que a areia os aqueça,
15
esquecida de que um pé
poderá esmagá-los,
que algum animal selvagem
poderá pisoteá-los.
16
Ela trata mal os seus filhotes,
como se não fossem dela,
e não se importa se o seu trabalho
é inútil.
17
Isso porque Deus
não lhe deu sabedoria
nem parcela alguma de bom senso.
18
Contudo, quando estende as penas
para correr,
ela ri do cavalo
e daquele que o cavalga.
19
“É você que dá força ao cavalo20
Você o faz saltar como gafanhoto,
espalhando terror
com o seu orgulhoso resfolegar?
21
Ele escarva com fúria,
mostra com prazer a sua força
e sai para enfrentar as armas.
22
Ele ri do medo e nada teme;
não recua diante da espada.
23
A aljava balança ao seu lado,
com a lança e o dardo flamejantes.
24
Num furor frenético
ele devora o chão;
não consegue esperar
pelo toque da trombeta.
25
Ao ouvi-lo, ele relincha:
‘Eia!’
De longe sente cheiro de combate,
o brado de comando
e o grito de guerra.
26
“É graças à inteligência que você tem27
É por sua ordem
que a águia se eleva
e no alto constrói o seu ninho?
28
Um penhasco é sua morada,
e ali passa a noite;
uma escarpa rochosa é a sua fortaleza.
29
De lá sai ela em busca de alimento;
de longe os seus olhos o veem.
30
Seus filhotes bebem sangue,
e, onde há mortos, ali ela está”.
1
Disse ainda o SENHOR a Jó:2
“Aquele que contende
com o Todo-poderoso
poderá repreendê-lo?
Que responda a Deus
aquele que o acusa!”
3
Então Jó respondeu ao SENHOR:4
“Sou indigno;
como posso responder-te?
Ponho a mão sobre a minha boca.
5
Falei uma vez,
mas não tenho resposta;
sim, duas vezes,
mas não direi mais nada”.
6
Depois, o SENHOR falou a Jó7
“Prepare-se8
“Você vai pôr em dúvida9
Seu braço é como o de Deus,
e sua voz pode trovejar como a dele?
10
Adorne-se, então,
de esplendor e glória
e vista-se de majestade e honra.
11
Derrame a fúria da sua ira,
olhe para todo orgulhoso
e lance-o por terra,
12
olhe para todo orgulhoso
e humilhe-o,
esmague os ímpios onde estiverem.
13
Enterre-os todos juntos no pó;
encubra os rostos deles no túmulo.
14
Então admitirei que a sua mão direita
pode salvá-lo.
15
“Veja o Beemote16
Que força ele tem em seus lombos!
Que poder nos músculos
do seu ventre!
17
Sua cauda balança como o cedro;
os nervos de suas coxas
são firmemente entrelaçados.
18
Seus ossos são canos de bronze,
seus membros são varas de ferro.
19
Ele ocupa o primeiro lugar
entre as obras de Deus.
No entanto, o seu Criador
pode chegar a ele com sua espada.
20
Os montes lhe oferecem
tudo o que produzem,
e todos os animais selvagens
brincam por perto.
21
Sob os lotos se deita,
oculto entre os juncos do brejo.
22
Os lotos o escondem à sua sombra;
os salgueiros junto ao regato o cercam.
23
Quando o rio se enfurece,
ele não se abala;
mesmo que o Jordão
encrespe as ondas
contra a sua boca,
ele se mantém calmo.
24
Poderá alguém capturá-lo
pelos olhos ,
ou prendê-lo em armadilha
e enganchá-lo pelo nariz?
1
“Você consegue pescar com anzol2
Consegue fazer passar um cordão
pelo seu nariz
ou atravessar seu queixo
com um gancho?
3
Você imagina que ele vai
implorar misericórdia
e dizer palavras amáveis?
4
Acha que ele vai fazer
acordo com você,
para que o tenha como escravo
pelo resto da vida?
5
Acaso você consegue fazer dele
um bichinho de estimação,
como se fosse um passarinho,
ou pôr-lhe uma coleira
para dá-lo às suas filhas?
6
Poderão os negociantes vendê-lo?
Ou reparti-lo
entre os comerciantes?
7
Você consegue encher de arpões
o seu couro
e de lanças de pesca a sua cabeça?
8
Se puser a mão nele,
a luta ficará em sua memória,
e nunca mais você tornará a fazê-lo.
9
Esperar vencê-lo é ilusão;
apenas vê-lo já é assustador.
10
Ninguém é suficientemente corajoso
para despertá-lo.
Quem então será capaz
de resistir a mim?
11
Quem primeiro me deu alguma coisa,
que eu lhe deva pagar?
Tudo o que há debaixo dos céus
me pertence.
12
“Não deixarei de falar13
Quem consegue arrancar
sua capa externa?
Quem se aproximaria dele
com uma rédea?
14
Quem ousa abrir as portas
de sua boca,
cercada com seus dentes temíveis?
15
Suas costas possuem
fileiras de escudos
firmemente unidos;
16
cada um está tão junto do outro
que nem o ar passa entre eles;
17
estão tão interligados
que é impossível separá-los.
18
Seu forte sopro
atira lampejos de luz;
seus olhos são como
os raios da alvorada.
19
Tições saem da sua boca;
fagulhas de fogo estalam.
20
Das suas narinas sai fumaça
como de panela fervente
sobre fogueira de juncos.
21
Seu sopro acende o carvão,
e da sua boca saltam chamas.
22
Tanta força reside em seu pescoço
que o terror vai adiante dele.
23
As dobras da sua carne
são fortemente unidas;
são tão firmes que não se movem.
24
Seu peito é duro como pedra,
rijo como a pedra inferior do moinho.
25
Quando ele se ergue,
os poderosos se apavoram;
fogem com medo dos seus golpes.
26
A espada que o atinge
nada lhe faz,
nem a lança nem a flecha
nem o dardo.
27
Ferro ele trata como palha,
e bronze como madeira podre.
28
As flechas não o afugentam,
as pedras das fundas
são como cisco para ele.
29
O bastão lhe parece fiapo de palha;
o brandir da grande lança o faz rir.
30
Seu ventre é como caco denteado
e deixa rastro na lama
como o trilho de debulhar.
31
Ele faz as profundezas se agitarem
como caldeirão fervente
e revolve o mar
como pote de unguento.
32
Deixa atrás de si
um rastro cintilante,
como se fossem
os cabelos brancos do abismo.
33
Nada na terra se equipara a ele:
criatura destemida!
34
Com desdém olha todos os altivos;
reina soberano
sobre todos os orgulhosos”.
1
Então Jó respondeu ao SENHOR:2
“Sei que podes fazer todas as coisas;
nenhum dos teus planos
pode ser frustrado.
3
Tu perguntaste: ‘Quem é esse
que obscurece o meu conselho
sem conhecimento?’
Certo é que falei de coisas
que eu não entendia,
coisas tão maravilhosas
que eu não poderia saber.
4
“Tu disseste:5
Meus ouvidos já tinham
ouvido a teu respeito,
mas agora os meus olhos te viram.
6
Por isso menosprezo a mim mesmo
e me arrependo no pó e na cinza”.
7
Depois que o SENHOR disse essas palavras a Jó, disse também a Elifaz, de Temã: “Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó.8 Vão agora até meu servo Jó, levem sete novilhos e sete carneiros, e com eles apresentem holocaustos em favor de vocês mesmos. Meu servo Jó orará por vocês; eu aceitarei a oração dele e não farei a vocês o que merecem pela loucura que cometeram. Vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó”.
9 Então Elifaz, de Temã, Bildade, de Suá, e Zofar, de Naamate, fizeram o que o SENHOR lhes ordenara; e o SENHOR aceitou a oração de Jó.
10
Depois que Jó orou por seus amigos, o SENHOR o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes.11 Todos os seus irmãos e irmãs e todos os que o haviam conhecido anteriormente vieram comer com ele em sua casa. Eles o consolaram e o confortaram por todas as tribulações que o SENHOR tinha trazido sobre ele, e cada um lhe deu uma peça de prata e um anel de ouro.
12
O SENHOR abençoou o final da vida de Jó mais do que o início. Ele teve catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de boi e mil jumentos.13 Também teve ainda sete filhos e três filhas.
14 À primeira filha deu o nome de Jemima, à segunda o de Quézia e à terceira o de Quéren-Hapuque.
15 Em parte alguma daquela terra havia mulheres tão bonitas como as filhas de Jó, e seu pai lhes deu herança junto com os seus irmãos.
16
Depois disso Jó viveu cento e quarenta anos; viu seus filhos e os descendentes deles até a quarta geração.17 E então morreu, em idade muito avançada.