1

1 No terceiro ano do reinado de Joaquim em Judá, Nabucodonosor, rei da Babilônia, chegou a Jerusalém e pôs cerco à cidade.

2 O Senhor entregou, então, em suas mãos o rei de Judá, Joaquim, e parte dos objetos da Casa de Deus. Ele levou tudo para a terra de Senaar e guardou os objetos no tesouro do templo dos seus deuses.

3 Depois o rei deu ordem a Asfenez, o chefe do pessoal, para escolher entre os israelitas, da família real ou da nobreza,

4 alguns jovens sem qualquer defeito físico e de boa aparência, instruídos em toda a espécie de sabedoria, práticos no conhecimento, gente de ciência, capazes de servir na corte do rei. Ordenou também que se ensinasse a eles a literatura e a língua dos caldeus.

5 O rei determinou que a alimentação diária deles fosse do seu próprio cardápio, e o vinho da mesa real. Deveriam ser revigorados durante três anos, antes de comparecer à presença do rei.

6 Entre eles estavam Daniel, Ananias, Misael e Azarias, que eram judeus.

7 O chefe do pessoal deu-lhes outros nomes: Daniel passou a chamar-se Baltazar, Ananias, Sidrac, Misael, Misac, e Azarias, Abdênago.

8 Daniel decidiu que não iria se contaminar com as comidas e o vinho da mesa do rei. Pediu, então, ao chefe do pessoal que o dispensasse dessa contaminação.

9 Deus fez com que Daniel ganhasse a simpatia daquele chefe do pessoal.

10 Este lhe disse: “Eu só temo o meu senhor, o rei, que determinou pessoalmente o que deveríeis comer e beber! Se ele notar os vossos rostos mais pálidos do que os dos outros jovens da mesma idade, vós me estareis condenando à morte perante o rei”.

11 Daniel disse, então, ao guarda a quem o chefe do pessoal havia confiado Daniel, Ananias, Misael e Azarias:

12 “Faze uma experiência com os teus servos: durante dez dias tu nos darás para comer apenas vegetais e só água para beber.

13 Depois, vais comparar a nossa aparência com a dos outros jovens que comem do cardápio do rei. Então, poderás fazer dos teus servos o que quiseres”.

14 Ele aceitou a proposta e fez a experiência por dez dias.

15 Ao final dos dez dias eles estavam com melhor aparência e corpo mais sadio do que todos os outros jovens que comiam do cardápio do rei.

16 A partir de então o guarda definitivamente eliminou aquelas iguarias e o vinho da alimentação deles, fornecendo-lhes apenas vegetais.

17 Aos quatro rapazes Deus concedeu o conhecimento e a compreensão de toda a literatura, bem como a sabedoria e, a Daniel, especialmente, o dom de interpretar toda espécie de visão ou sonho.

18 Ao fim do período determinado pelo rei para que os rapazes lhe fossem apresentados, o Chefe do Pessoal levou-os à presença de Nabucodonosor.

19 O rei conversou com eles e não encontrou ninguém melhor do que Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Daí em diante eles ficaram prestando serviços diretamente ao rei.

20 Por tudo o que procurou saber deles em termos de conhecimento e sabedoria, o rei os considerou dez vezes mais capazes do que todos os sábios e magos que havia no império.

21 Aí permaneceu Daniel até o primeiro ano do rei Ciro.

2

1 No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que o deixaram confuso a ponto de perder o sono.

2 Mandou chamar os sábios, os magos, os adivinhos e os astrólogos para que viessem interpretar os sonhos do rei. Ao chegarem, foram levados à sua presença.

3 Disse-lhes o rei: “Tive um sonho que me deixou com a mente confusa ao procurar entendê-lo”.

4 Os adivinhos disseram ao rei: [ texto em aramaico ] “Viva o rei para sempre! Conta o sonho a teus servos, e nós te daremos a explicação! ”

5 E o rei disse aos adivinhos: “O que falo é sério: Se não me disserdes como foi o sonho que tive e qual a sua interpretação, sereis esquartejados e vossas casas, transformadas em entulho.

6 Se disserdes, entretanto, qual foi o sonho e qual a sua interpretação, eu lhes darei vantagens, presentes e muitas homenagens. Dizei, pois, qual foi o sonho que tive e qual é a sua interpretação! ”

7 Os adivinhos tornaram a dizer: “Tu, ó Rei, nos dirás qual foi o sonho e nós daremos a sua interpretação”.

8 O rei respondeu: “Bem vejo que quereis ganhar tempo! Vós sabeis que o que falo é sério:

9 se não me disserdes qual foi o meu sonho, vossa sentença é uma só. Combinastes mentir e tapear, enquanto o tempo vai passando. Basta dizerdes qual foi o meu sonho e eu terei certeza de que sereis capazes de interpretá-lo”.

10 Os adivinhos responderam ao rei: “Não há ninguém neste mundo capaz de deslindar esse caso do rei. Nenhum rei, governador ou ministro jamais pediu tal coisa a qualquer mago, feiticeiro ou adivinho.

11 O que tu, ó Rei, estás pedindo é difícil demais, não existe quem seja capaz de deslindar uma coisa dessas para ti, ó Rei, a não ser os deuses, que não convivem com a gente”.

12 A essas palavras, o rei, indignado e enfurecido, mandou matar todos os sábios da Babilônia.

13 Quando foi publicado o decreto que condenava os sábios à morte, procuraram Daniel e seus companheiros a fim de executá-los também.

14 Daniel dirigiu-se, então, com inteligência e bons modos, a Arioc, carrasco chefe do rei, encarregado de matar todos os sábios da Babilônia,

15 perguntando-lhe por que fora publicado um decreto tão severo da parte do rei. Arioc contou o caso a Daniel.

16 Daniel procurou o rei para pedir um prazo a fim de que pudesse apresentar a solução do caso.

17 Voltou para casa e contou aos companheiros Ananias, Misael e Azarias o que estava acontecendo,

18 para que pedissem ao Senhor do céu a graça de desvendarem esse segredo e não serem mortos com os outros sábios da Babilônia.

19 O mistério foi, então, revelado a Daniel numa visão noturna. E ele glorificou ao Deus do céu,

20 proclamando: “Bendito seja o nome do Senhor, desde sempre e para sempre! Pois sabedoria e capacidade são coisas que dele vêm!

21 É ele quem muda os tempos e estações, reis ele derruba e põe outros no lugar; é ele quem aos sábios dá sabedoria e inteligência a quem sabe discernir.

22 É ele quem revela o que existe de profundo e também o escondido. É ele quem sabe o que existe no escuro. Com ele mora a luz.

23 A ti, Deus de meus pais, eu louvo e celebro, pois tu me confiaste sabedoria e capacidade, e agora nos revelaste o que te pedimos, desvendaste para nós o enigma do rei. ”

24 Depois disso, Daniel procurou Arioc, a quem o rei tinha encarregado de executar os sábios da Babilônia, e disse-lhe: “Já não precisas matar os sábios! Leva-me até o rei. Vou dar-lhe a interpretação que ele está querendo”.

25 Mais que depressa, Arioc levou Daniel à presença do rei, dizendo: “Entre os exilados judeus, encontrei este moço que é capaz de explicar o sonho do rei”.

26 O rei disse a Daniel, cujo nome era Baltasar: “Serás mesmo capaz de me contar e depois interpretar o sonho que tive? ”

27 E Daniel falou na presença do rei: “Sábios, feiticeiros, magos ou adivinhos não são capazes de decifrar o enigma proposto pelo rei.

28 Lá no alto, porém, existe o Deus do céu que revela os mistérios. Ele quis revelar a ti, ó Rei Nabucodonosor, o que vai acontecer nos últimos dias. O teu sonho, ó Rei, a visão que te veio à mente quando estavas dormindo, é a seguinte:

29 Tu, ó Rei, estavas na cama, os pensamentos andando à procura do que deve acontecer no futuro. E, então, Aquele que revela os segredos contou-te o que deve acontecer.

30 Não é por ter maior sabedoria do que os outros que deslindo essa questão. É apenas para que eu possa dar a explicação, fazendo-te saber que imagens te povoaram a mente.

31 Tu, ó Rei, tiveste uma visão: Era uma estátua, grande como ela só, alta e muito brilhante. Ela surgiu bem diante de ti, ó Rei, e tinha aparência terrível.

32 A cabeça da estátua era de ouro maciço, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de bronze,

33 as canelas de ferro e os pés eram parte de ferro e parte de barro.

34 Tu, ó Rei, estavas olhando a estátua quando, sem ninguém jogar, caiu uma pedra que veio bater exatamente nos pés de ferro e argila da estátua, quebrando-os.

35 Com isso, quebrou-se tudo o que era de ferro, de bronze, de prata e de ouro. Ficou tudo como se fosse palha no terreiro em final de colheita, palha que o vento carrega sem deixar sinal. Depois, a pedra que atingira a estátua se transformou numa montanha que cobriu o mundo inteiro.

36 Esse foi o sonho. Agora vou dar te, ó Rei, a interpretação:

37 Tu, ó Rei, és o rei dos reis, a quem o Deus do céu concedeu poder, autoridade e fama.

38 Em todo o mundo habitado, ele te entregou os seres humanos, os animais silvestres e as aves do céu, dando-te o domínio sobre tudo. E tu, ó Rei, és a cabeça de ouro.

39 Depois de ti, ó Rei, ele fará surgir um outro reino, inferior ao teu, ó Rei, em seguida, um terceiro, o de bronze, a dominar sobre toda a terra.

40 O quarto império será duro como o ferro, pois assim como o ferro quebra e esmigalha tudo, assim também esse rei vai quebrar e esmigalhar todos os outros.

41 Os pés e os dedos que tu, ó Rei, viste, parte de ferro e parte de barro, significam um império dividido. Ele ainda traz a dureza do ferro, já que tu, ó Rei, viste uma parte de ferro misturada com outra de argila.

42 Os dedos dos pés, metade de ferro e metade de barro significam que o tal império será firme por um lado, mas por outro será fraco.

43 A mistura que tu, ó Rei, viste de parte de ferro e parte de argila significa também que os reinos tentarão unir-se através de casamentos, mas não conseguirão juntar-se, da mesma forma como o ferro não faz liga com a argila.

44 Na época desses reis o Deus do céu fará surgir um império que nunca há de ser destruído. Será um império que jamais passará para as mãos de outro povo. Ao contrário, ele é que há de humilhar e arrasar todos os outros impérios, enquanto ele mesmo permanecerá para sempre.

45 Tu, ó Rei, também viste aquela pedra que despencou da montanha sem que ninguém a jogasse e esmigalhou o que era de ferro, de bronze, de prata e de ouro. O grande Deus mostrou assim ao rei o que está para acontecer em breve. O sonho é esse mesmo e sua interpretação está correta”.

46 O rei Nabucodonosor prostrou-se, então, de rosto no chão diante de Daniel, mandando oferecer-lhe sacrifícios e incensá-lo.

47 A Daniel o rei disse: “O vosso Deus é de fato o Deus dos deuses! É ele o Senhor dos impérios, é ele quem revela os mistérios, pois só ele foi capaz de deslindar essa questão”.

48 O rei promoveu Daniel. Deu-lhe uma quantidade enorme de presentes e queria fazer dele o governador de todas as províncias da Babilônia e chefe geral de todos os sábios do país.

49 Daniel só pediu ao rei que nomeasse Sidrac, Misac e Abdênago para a administração das províncias da Babilônia, enquanto o próprio Daniel ficaria prestando serviços na ante-sala do rei.

3

1 O rei Nabucodonosor mandou fazer uma estátua de ouro com trinta metros de altura por três de diâmetro e colocou-a na planície de Dura, província da Babilônia.

2 Em seguida mandou reunir os sátrapas, prefeitos, governadores, conselheiros, funcionários do tesouro, juízes, enfim, todas as autoridades do país, para a inauguração da estátua que ele havia construído.

3 Reuniram-se, pois, os sátrapas, prefeitos. governadores, conselheiros, funcionários do tesouro, juízes, enfim, todas as autoridades do país, para a inauguração da estátua que o rei Nabucodonosor mandara fazer. Todos estavam de pé diante da estátua.

4 O porta-voz do rei gritou forte: “Esta mensagem é para todos os povos, nações e línguas:

5 Quando ouvirem o som de corneta, flauta, cítara, harpa, saltério, gaita e outros instrumentos musicais, devem todos pôr-se de joelhos para adorar a estátua de ouro erguida pelo rei Nabucodonosor.

6 Quem não fizer isso, será imediatamente jogado na fornalha com o fogo aceso”.

7 Quando ouviram o som de corneta, flauta, cítara, harpa, saltério, gaita e outros instrumentos musicais, todos os povos, nações e línguas caíram de joelhos, adorando a estátua erguida pelo rei Nabucodonosor.

8 Alguns caldeus quiseram denunciar os judeus

9 e foram ao rei Nabucodonosor para dizer-lhe: “Viva o rei para sempre!

10 Tu, ó Rei, decretaste que toda pessoa que ouvisse o som de corneta, flauta, cítara, harpa, saltério, gaita e outros instrumentos musicais, deveria colocar-se de joelhos para adorar a estátua de ouro.

11 E quem não se ajoelhasse para adorar deveria ser jogado na fornalha acesa.

12 Pois bem, alguns judeus, que Tu, ó Rei, nomeaste governadores das províncias da Babilônia — são eles Sidrac, Misac e Abdênago — não respeitaram a tua ordem, ó Rei, não prestaram culto ao teu deus, não adoraram a imagem de ouro erguida por Ti, ó Rei, ”.

13 Nabucodonosor, então, indignado e enfurecido, mandou buscar Sidrac, Misac e Abdênago. Eles chegaram à presença do rei

14 e este lhes perguntou: “Sidrac, Misac e Abdênago, foi de propósito que não prestastes culto ao meu deus e recusastes adorar a estátua de ouro que eu ergui?

15 Agora, então, ficai preparados. Quando ouvirdes o som de corneta, flauta, cítara, harpa, saltério gaita e outros instrumentos musicais devereis cair de joelhos e adorar a estátua de ouro que eu fiz! Se não adorardes, na mesma hora sereis atirados na fornalha com acesa. E qual é o Deus que vos há de livrar da minha mão? ”.

16 Sidrac, Misac e Abdênago responderam: “Nem precisamos dar resposta a esta ordem.

17 Existe o nosso Deus a quem cultuamos ele nos pode livrar da fornalha acesa, salvando-nos da tua mão.

18 Mas mesmo que isso não aconteça, fica sabendo, ó Rei, que não vamos prestar culto ao seu deus, nem vamos adorar a estátua de ouro construída por ti, ó Rei”.

19 Nabucodonosor ficou tão furioso contra os três, que seu rosto empalideceu. Mandou, então, acender na fornalha um fogo sete vezes maior que o de costume,

20 em seguida, mandou que os soldados mais fortes do seu exército amarrassem os três e os atirassem na fornalha acesa.

21 Amarraram, pois, Sidrac, Misac e Abdênago vestidos de suas túnicas, calções gorros e outras roupas e os atiraram na fornalha acesa.

22 Como a ordem do rei era rigorosa e o fogo da fornalha exagerado, as labaredas mataram aqueles que se aproximaram para atirar Sidrac, Misac e Abdênago.

23 Os três jovens, entretanto, caíram amarrados dentro da fornalha acesa.

24 Os três ficaram passeando por entre as chamas, cantando hinos a Deus e louvando ao Senhor.

25 Azarias, de pé, orou assim, soltando a voz no meio do fogo:

26 Bendito és tu, Senhor, Deus dos nossos pais! Que teu nome seja louvado e glorificado para sempre!

27 Pois foste justo em tudo o que por nós fizeste, as tuas obras são todas verdadeiras, retos, os teus caminhos e as tuas decisões são a verdade.

28 Foi justa a sentença que proferiste, justos os castigos que nos mandaste a nós e a Jerusalém, cidade santa dos nossos pais. Tudo aquilo nos mandaste foi sentença justa, por causa dos nossos pecados.

29 Sim! Pecamos! Foi um crime afastarmo-nos de ti! Em tudo praticamos o pecado,

30 jamais dando ouvidos aos teus preceitos. Não os guardamos nem pusemos em prática, como nos mandaste para o nosso bem.

4

1 Eu, Nabucodonosor, vivia tranqüilo em minha casa, feliz no meu palácio.

2 Tive, então, um sonho que me assustou. Os fantasmas da minha cama, as visões de minha mente acabaram me perturbando.

3 Por isso, publiquei um decreto, pelo qual mandava trazer à minha presença todos os sábios da Babilônia, para que me dessem a conhecer a interpretação do meu sonho.

4 Vieram os magos, os adivinhos, os astrólogos e os feiticeiros. Contei-lhes o sonho, mas eles não foram capazes de interpretá-lo.

5 Veio, então, Daniel, chamado Baltasar por causa do nome do meu deus. Ele tem o espírito dos deuses santos. Contei-lhe o meu sonho:

6 ‘Baltasar, chefe dos magos, sei que tens o espírito dos deuses santos e que nenhum mistério te embaraça. Escuta a visão que tive num sonho e, depois, dá-me a interpretação.

7 Na cama ia eu observando as imagens que me vinham à cabeça quando vi: Lá estava uma árvore, bem no centro da terra! E era ela muito alta.

8 A tal árvore cresceu e ficou forte, chegando o seu topo até o céu, e sua copa se alargou até o extremo da terra.

9 Folhagem bonita e frutos com fartura, nela havia alimento para todos! Debaixo dela tinham sombra os animais silvestres e em seus galhos se aninhavam as aves do céu! Dela se alimentava todo ser vivo.

10 Ia eu observando as imagens que em minha cabeça se formavam, quando apareceu um vigia santo descido do céu.

11 Em alta voz ele gritou: ‘Cortai a árvore! Cortai seus ramos! Arrancai as folhas! Derrubai os seus frutos! Fugi, feras, de sua sombra! Fugi, pássaros, de seus galhos!

12 Deixai no chão, porém, o tronco com as raízes numa corrente de ferro e de bronze, no meio da grama do pasto. Que ele seja orvalhado pelo sereno do céu, tenha o mesmo destino que os animais silvestres e a erva rasteira.

13 O coração humano lhe seja tirado e um coração de animal lhe seja dado. Sete eras por ele hão de passar.

14 Está resolvido no decreto dos vigias, o que decide é a palavra dos santos, para que todo ser vivente reconheça que é o Altíssimo quem manda nos impérios humanos e põe como rei a quem ele quer. Seja ele mais humilde dos homens, querendo, o Altíssimo o põe nas alturas’.

15 Foi esse o sonho que tive eu, o rei Nabucodonosor. Tu, agora, Baltasar, vais dar-me a interpretação deste sonho. Nenhum sábio do meu império foi capaz de dar-me a interpretação, mas tu podes, porque tens o espírito dos deuses santos”.

16 Daniel, que se chamava também Baltasar, ficou uma hora apavorado, as idéias fervilhando. Disse-lhe o rei: “Baltasar, não deixes que este sonho ou o seu significado te apavorem. ” Baltasar respondeu: “Meu senhor, que o sonho valha para os teus inimigos, que o seu significado seja para os teus adversários!

17 Tu, ó Rei, viste uma árvore muito grande e forte. Seu topo atingia o céu e a copa podia ser vista do mundo inteiro.

18 Sua folhagem era bonita e tinha frutos suficientes para alimentar todo o mundo. À sua sombra viviam os animais silvestres e nos ramos aninhavam-se as aves do céu.

19 Pois bem, essa árvore és tu, ó Rei, tão grandioso, tão magnífico! A tua grandeza, ó Rei, é tal que alcança até o céu, e teu poder vai até os confins do mundo.

20 Tu, ó Rei, viste também um vigia santo que descia do céu e dizia: ‘Derrubai a árvore, destruí-a! No chão, porém deixai só o tronco com as raízes, numa corrente de ferro e bronze, no meio da grama do pasto. Que ele seja orvalhada pelo sereno do céu e tenha o mesmo destino que os animais silvestres. Sete eras por ele hão de passar.

21 Eis a explicação, ó Rei: Aqui estão os decretos do Altíssimo que dizem respeito a ti, ó Rei, meu senhor:

22 Tu, ó Rei, serás tirado da companhia dos homens e obrigado a morar com os animais silvestres. Capim, como aos bois, é o que lhe darão para comer. Tu, ó Rei, terás de viver no sereno e sete anos hão de passar até que o rei aprenda que é o Altíssimo quem manda nos impérios dos homens e dá o poder a quem ele quer.

23 Mandaram deixar o tronco com as raízes. Significa que o teu império ficará de pé, desde que tu, ó Rei, reconheças que é o Céu quem manda.

24 Neste sentido, ó Rei, te seja agradável o meu conselho: paga teus pecados praticando a compaixão e repara tuas faltas cuidando dos pobres. Talvez assim tua felicidade possa durar”.

25 Tudo isso aconteceu ao rei Nabucodonosor.

26 Doze meses mais tarde, estava ele passeando no terraço do seu palácio em Babilônia.

27 Ia falando consigo mesmo: “Aí está a grande Babilônia que construí para moradia do rei, com o poder da minha autoridade e para o esplendor da minha glória! ”

28 Ainda falava, quando uma voz do céu se fez ouvir: “Rei Nabucodonosor, fica sabendo que perderás teu poder real!

29 Serás tirado da companhia dos homens para morar com os animais silvestres. Deverão alimentar-te com capim como se fosses um boi; e sete anos deverão passar até que aprendas que é o Altíssimo quem manda nos impérios dos homens e dá o poder a quem ele quer”.

30 Na mesma hora essa palavra se cumpriu para Nabucodonosor. Ele foi retirado do meio das pessoas, passou a comer capim como boi e a ficar no sereno. Seu cabelo ficou comprido como penas de águia e as unhas cresceram como unhas de passarinho.

31 “Terminada aquela fase, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos para o céu e a consciência me voltou. Passei, então, a bendizer o Altíssimo e a glorificar Aquele que vive eternamente. Seu poder é eterno, seu domínio atravessa as gerações!

32 Os habitantes do mundo diante dele nada valem, ele trata como quer os astros do céu e os habitantes do mundo. Ninguém há que resista à sua mão ou possa perguntar-lhe: ‘Que fizeste? ’

33 Naquele momento a consciência me voltou e, para o esplendor da minha autoridade de rei, também voltaram minha glória e majestade. Meus ministros e conselheiros foram procurar-me. Fui recolocado em minha autoridade real e meu poder ficou ainda maior.

34 Agora, então, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico o rei do céu, porque tudo o que ele faz é honesto, seus caminhos são justos, e a quem anda com soberba ele sabe rebaixar! ”

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5

1 O rei Baltazar fez um grande banquete para mil altos funcionários seus e, na presença desses mil, se pôs a beber vinho.

2 Tocado pelo vinho, Baltazar mandou trazer os cálices de ouro e prata que seu pai, Nabucodonosor, tinha retirado do templo de Jerusalém, para neles beberem o rei, os altos funcionários, suas esposas e concubinas.

3 Trouxeram, pois, os cálices de ouro tirados do templo que havia em Jerusalém; e neles começaram a beber o rei, seus altos funcionários, suas esposas e concubinas.

4 Bebiam vinho e louvavam seus deuses de ouro, prata, bronze, ferro, madeira ou pedra.

5 Naquele momento surgiu um dedo de mão humana riscando traços no reboco da parede do palácio real. O rei acompanhou com o olhar a mão que riscava.

6 Seu rosto mudou de cor, os pensamentos se embaralharam, sua espinha parecia desconjuntar-se, os joelhos batiam um no outro.

7 Aos gritos começou a chamar os magos, feiticeiros e adivinhos, dizendo assim: “Qualquer sábio da Babilônia que seja capaz de decifrar esses traços e dar a sua interpretação, há de vestir a púrpura com o cordão de ouro ao pescoço e será a terceira autoridade no império.

8 Vieram todos os sábios da Babilônia, mas nenhum conseguia decifrar os riscos e dar-lhe a interpretação.

9 O rei ia ficando cada vez mais perturbado e mais pálido e > seus altos funcionários, perdidos de susto.

10 Alarmada com os gritos do rei, a rainha-mãe entrou na sala do banquete e disse: “Viva o rei para sempre! Não deixes tuas idéias se confundirem, nem fiques pálido deste jeito!

11 Existe uma pessoa no teu império que tem o espírito dos deuses santos. No tempo do rei, teu pai, achavam que ele possuía uma inteligência e uma luz parecida com a sabedoria dos deuses. O rei Nabucodonosor, teu pai, fez dele o chefe dos sábios da Babilônia, dos magos, dos feiticeiros e dos astrólogos.

12 Pois bem, já que esse Daniel, a quem o rei deu o nome de Baltasar, tem tanto espírito, conhecimento e luz para interpretar os sonhos, decifrar os enigmas e desatar os nós, mandai chamá-lo, que ele dará a interpretação.

13 Daniel foi, então, levado à presença do rei, que lhe perguntou: “És tu esse tal Daniel que meu pai trouxe entre os exilados de Judá?

14 Ouvi falar que tens o espírito dos deuses, que tens muita luz, muita inteligência, muita sabedoria.

15 À minha presença compareceram sábios e adivinhos para me decifrar estes traços e explicar sua interpretação, mas não foram capazes de me mostrar o significado de nada.

16 De ti, porém, ouvi falar que és capaz de dar interpretações e de desfazer emaranhados. Agora, então, se fores mesmo capaz de decifrar esses traços e explicar seu significado, irás vestir a púrpura, com o cordão de ouro ao pescoço, como terceira autoridade no meu império”.

17 Daniel respondeu ao rei: “Fica com teus presentes ou dá a outros o teu prêmio. Vou decifrar os traços e explicar o seu significado.

18 O Deus Altíssimo foi quem deu o império, a grandeza, o prestígio e a fama ao teu pai, Nabucodonosor.

19 Por causa da grandeza que Deus lhe deu, todos os povos, nações e línguas temiam e tremiam diante dele, pois ele matava ou deixava vivo a quem queria, exaltava ou humilhava à vontade.

20 Ficando, porém com idéias de grandeza e espírito soberbo, orgulhoso, foi derrubado do seu trono real e perdeu a majestade.

21 Foi afastado da companhia dos seres humanos, pois sua mente se tornara igual à dos animais, em cuja companhia passou a morar, alimentando-se de capim como os bois, enquanto o sereno orvalhava-lhe o corpo. Assim ficou, até aprender que o Deus altíssimo é quem manda nos impérios humanos e dá o poder a quem lhe agrada.

22 Tu, porém, filho dele, Baltazar, não tiveste um coração humilde, apesar de saberes disso.

23 Tu te julgaste maior que o Senhor dos céus e trouxeste para cá os cálices do seu templo, a fim de que tu, teus ministros, esposas e concubinas neles bebessem vinho, louvando os deuses de prata ou ouro, de bronze, de ferro, madeira ou pedra, deuses que não enxergam, não escutam, não entendem. Ao Deus, porém, em cujas mãos está toda a tua vida e todo o teu caminho, tu não glorificaste.

24 Foi por isso que ele mandou fazer esses riscos.

25 Eis o que está naqueles traços: Mina, Siclo e Feres.

26 A interpretação disto é a seguinte: Mina vem de contar. Deus contou o tempo do teu reinado e já acabou.

27 Siclo vem de pesar: Deus te pesou na balança e te faltava peso.

28 Feres vem de dividir: o teu império será dividido e entregue aos medos e aos persas”.

29 Baltazar mandou vestir Daniel com a púrpura e colocar-lhe ao pescoço o cordão de ouro, proclamando-o terceira autoridade no império.

30 Nessa mesma noite, porém, Baltazar o rei dos caldeus foi morto.

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6

1 Dario, o medo, sucedeu-lhe no império, com a idade de sessenta e dois anos.

2 Pareceu bem a Dario nomear cento e vinte sátrapas com autoridade por todo o império.

3 Acima deles havia três ministros, e Daniel era um dos três, a quem se deviam prestar as contas, a fim de não incomodar o rei.

4 Ora, Daniel estava acima dos outros ministros e sátrapas, pois tinha um espírito tão fora do comum que o rei estava pensando em dar > lhe autoridade sobre todo o império.

5 Foi então que os ministros e sátrapas começaram a procurar uma oportunidade para surpreender Daniel em algum deslize contra os interesses do império. Mas nada puderam encontrar de suspeito, já que ele era muito honesto e nada conseguiram achar de incorreto.

6 Tiveram, então, de reconhecer: “Nada vamos encontrar para acusar nesse Daniel a não ser assuntos ligados ao seu Deus”.

7 Esses ministros e sátrapas foram, pois, dizer ao rei: “Viva o rei Dario para sempre!

8 Os ministros todos, os prefeitos, governadores, sátrapas, conselheiros, todos estão de acordo com que tu, ó Rei, faças um decreto determinando que toda pessoa que no prazo de trinta dias fizer alguma prece a um outro deus ou homem que não sejas tu, ó Rei, seja jogado na cova dos leões.

9 Agora, então, ó Rei, sanciona essa lei, pondo tua assinatura neste documento para que, de acordo com a legislação dos medos e dos persas, ela não possa mais ser alterada ou modificada.

10 E o rei Dario assinou o documento, sancionando a lei.

11 Daniel, ao saber que o rei tinha assinado o decreto, foi para casa. No andar de cima havia uma janela que dava para o lado de Jerusalém. Três vezes ao dia ele ali se ajoelhava para orar e louvar o seu Deus como sempre fazia.

12 Os tais indivíduos correram lá e surpreenderam Daniel orando, fazendo preces a seu Deus.

13 Imediatamente foram denunciá-lo ao rei: “Tu, ó Rei, não assinaste um decreto segundo o qual qualquer pessoa que, no prazo de trinta dias, prestasse culto a qualquer deus ou homem que não seja tu, ó Rei, fosse atirado na cova dos leões? ” O rei respondeu: “A decisão é definitiva e não pode ser revogada, de acordo com a legislação dos medos e dos persas”.

14 Eles, então, disseram ao rei: “Daniel, dessa gente exilada de Judá, não deu importância ao teu decreto, ó Rei — uma lei assinada pelo rei! —, e continua fazendo suas orações três vezes ao dia”.

15 Ao ouvir essa notícia, o rei sentiu-se mal e ficou preocupado com Daniel, pensando em salvá-lo. Até o pôr-do-sol ficou tentando livrá-lo,

16 mas os tais procuraram o rei para dizer-lhe: “Tu, ó Rei, bem sabes que a lei entre os medos e persas é que um decreto sancionado pelo rei não pode ser modificado! ”

17 O rei mandou, então, trazer Daniel para ser jogado na cova dos leões. O rei disse a Daniel: “O teu Deus a quem tu sempre cultuas há de livrar-te! ”

18 Trouxeram uma pedra para fechar a entrada da cova. Em seguida o rei lacrou a pedra com a sua marca e a marca dos seus secretários, para que ninguém alterasse nada na situação de Daniel.

19 O rei voltou para o palácio, ficou em jejum aquela noite, não lhe levaram as mulheres e ele perdeu o sono.

20 No dia seguinte, levantou-se bem cedo e foi logo para a cova dos leões.

21 Chegando à cova, onde estava Daniel, o rei, aflito, gritou: “Daniel, servo do Deus vivo, teu Deus, a quem sempre cultuas, foi capaz de livrar-te dos leões? ”

22 Daniel falou: “Viva o rei para sempre!

23 Meu Deus mandou seu anjo para fechar as bocas dos leões e eles não me incomodaram, pois fui considerado inocente diante de Deus da mesma forma como também contra ti, ó Rei, nenhum crime cometi”.

24 O rei ficou contentíssimo e deu ordens para tirarem Daniel da cova. Quando o tiraram não encontraram nele um arranhão sequer, pois ele havia confiado no seu Deus.

25 O rei mandou, então, trazer aqueles indivíduos que tinham acusado Daniel, e com eles também suas esposas e filhos, e deu ordens para atirá-los todos na cova dos leões. Antes que chegassem ao fundo, os leões já os iam agarrando e esmigalhando-lhes os ossos.

26 O rei escreveu, então, a todos os povos, nações e línguas que existem no mundo: “Muitas felicidades!

27 Estou promulgando o seguinte decreto: Por toda a parte onde chega o poder de minha autoridade de rei, estão todos obrigados a temer e respeitar o Deus de Daniel, pois ele é o Deus vivo, firme para sempre. Sua autoridade jamais é ofendida e seu poder é infinito.

28 É ele quem liberta, salva e produz sinais e prodígios no céu e na terra. Foi ele quem libertou Daniel das garras dos leões”.

7

1 No primeiro ano do reinado de Baltazar na Babilônia, Daniel teve um sonho. Imediatamente escreveu as imagens que lhe povoaram a mente enquanto dormia. Assim começa:

2 Isto falou Daniel: “Durante a noite eu tive esta visão: os ventos dos quatro cantos do mundo reviravam o mar imenso.

3 Quatro feras enormes foram surgindo, então, do meio do mar, cada uma diferente da outra.

4 A primeira parecia um leão, só que tinha asas de águia. Estava eu olhando, quando lhe arrancaram as asas e suas patas foram se erguendo do chão, ficando ela de pé como gente. E deram-lhe um coração humano.

5 Apareceu outra fera. Tinha a figura de um urso. Estava de pé sobre duas patas e tinha na boca entre os dentes três costelas. Disseram-lhe: “Avante, come bastante carne! ”

6 Depois vi uma outra fera, parecida com um leopardo. Só que tinha nos lombos quatro asas de pássaro e tinha também quatro cabeças. Foi-lhe dada autoridade.

7 Em seguida, em minhas visões noturnas, vi a quarta fera. Era medonha, terrível e muito forte. Tinha enormes dentes de ferro, comia e esmagava tudo e macetava com os pés o que sobrava. Era diferente das outras feras, porque tinha dez chifres.

8 Estava eu observando esses chifres, quando do meio deles surgiu um outro chifre pequeno. Por causa dele, três dos outros chifres foram arrancados. Nesse chifre havia olhos humanos e uma boca que dizia arrogâncias.

9 Eu continuava olhando: tronos foram instalados e um ancião se assentou, vestido de branco igual à neve, cabelos claros como a lã. Seu trono era uma labareda de fogo com rodas de fogo em brasa.

10 Corria um rio de fogo, nascido diante dele. Havia milhões a seu serviço, inumerável multidão de pé diante dele. Os juízes se assentaram e os livros foram abertos.

11 Eu continuava olhando. No meio do vozerio e das arrogâncias que aquele chifre gritava, vi que aquela fera estava sendo morta, seu cadáver despedaçado e atirado ao fogo para queimar.

12 Quanto às outras feras, seu poder foi retirado, mas foi-lhes concedido um prolongamento da vida até certo tempo e momento.

13 Em imagens noturnas tive esta visão: Entre as nuvens do céu vinha alguém semelhante a um filho do homem. Chegou até perto do ancião, foi levado à sua presença.

14 Foi-lhe dada a soberania, a glória e a realeza. Todos os povos, nações e línguas hão de servir-lhe. Seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado e sua realeza é tal, que jamais será destruída!

15 Eu, Daniel, senti-me com o espírito perturbado em meu interior. As visões de minha mente deixavam-me apavorado.

16 Aproximei-me de um dos presentes para perguntar o que era mesmo tudo aquilo. E ele falou comigo, dando-me a explicação completa:

17 ‘As quatro feras enormes são quatro reis que surgirão na terra.

18 Os que vão receber a realeza são os santos do Altíssimo. Quando tomarem posse do reino, será para sempre e pelos séculos dos séculos’.

19 Depois eu quis saber da quarta fera, que era diferente das outras, medonha, com enormes dentes de ferro e unhas de bronze, que comia, pisava e esmagava o resto com os pés.

20 Perguntei também sobre os dez chifres que havia em sua cabeça e daquele outro que foi aparecendo e fazendo cair os outros três que lhe estavam mais próximos e que tinha olhos e boca que proferia arrogâncias, e tinha uma envergadura maior que a das outras feras.

21 Observando, vi que esse chifre fazia guerra contra os santos e os vencia,

22 até que veio o Ancião para fazer justiça aos santos do Altíssimo. Chegou a hora, e os santos tomaram posse do reino.

23 Ele explicou: “A quarta fera é um quarto reino que vai surgir na terra e que será diferente dos outros reinos. Vai devorar o mundo inteiro e, depois, vai pisar e esmagar.

24 Os dez chifres são dez reis que hão de surgir neste reino e depois dele surgirá aquele outro, diferente dos dez primeiros, e que vai derrubar três reis.

25 Ele proferirá arrogâncias contra o Altíssimo e perseguirá os seus santos. Vai pretender modificar o calendário e a própria lei de Deus. Em suas mãos os fiéis serão entregues por um período e mais dois períodos e mais a metade de um período.

26 O tribunal, porém, vai se instalar e retirar o seu poder, ele será destruído e aniquilado até o fim.

27 A soberania, o poder e a grandeza de todo o reino que debaixo do céu existe serão entregues ao povo santo do Altíssimo. O seu reino será um reino eterno, e toda autoridade há de venerá-lo e prestar-lhe obediência’”.

28 Aqui termina o assunto. Eu, Daniel, fiquei confuso em meus pensamentos, empalideci e guardei tudo na memória.

8

1 No terceiro ano do reinado de Baltazar, a mim, Daniel, apareceu-me uma visão, depois daquela anterior.

2 Observando bem, vi que estava no castelo de Susa, província de Elam. Eu estava olhando o rio Ulai.

3 Dei com os olhos num carneiro postado diante do rio. Tinha chifres altos, mas um era mais alto que o outro, só que esse mais alto tinha crescido depois.

4 Notei que o carneiro dava chifradas para o ocidente, para o norte e para o sul e nenhum animal lhe podia resistir. Nenhum escapava dele, que ia fazendo o que queria e progredindo sempre.

5 Eu estava refletindo sobre isso, quando apareceu um bode que vinha do ocidente, sobrevoando o mundo inteiro sem ao menos tocar o chão. Tinha um chifre bem visível, exatamente no meio, entre os olhos.

6 Ele veio na direção do carneiro de dois chifres, que eu tinha visto diante do rio Ulai, e atirou-se contra ele com toda a fúria.

7 Eu o vi atacar o carneiro, agredindo-o furiosamente e quebrando-lhe os dois chifres. O carneiro não teve forças para resistir. O bode derrubou o carneiro ao chão, pisou-lhe em cima e não houve quem dele livrasse o carneiro.

8 O bode progrediu muito mais ainda. Mas no auge de sua força, quebrou-se o seu grande chifre e, no lugar dele, brotaram quatro chifres cada um voltado para um lado da terra.

9 De um desses lados nasceu um chifre pequeno que depois cresceu muito na direção sul, para o oriente e para o lado de nossa terra deliciosa.

10 Cresceu até as alturas do exército do céu e derrubou na terra algumas estrelas, parte deste exército, e pisou-lhes em cima.

11 Até contra o Comandante desse exército ele quis se engrandecer, pois aboliu o sacrifício permanente, desonrando o Lugar Sagrado.

12 O exército tomou o lugar do sacrifício permanente pelo pecado e a verdade foi jogada ao chão. Ele executava e tinha êxito.

13 Ouvi um santo que estava falando. Um outro santo disse ao que estava falando: “Quanto tempo vai demorar o que diz esta visão do sacrifício permanente, do sacrifício pelo pecado, o abandono instalado, do Santuário e o Exército sendo pisoados? ”

14 Ele respondeu: “Dois mil e trezentos sacrifícios diários, o da tarde e o da manhã. E, então, o Santuário será purificado.

15 Eu, Daniel, estava olhando essa visão e procurando entender, quando, de repente, estava de pé à minha frente a figura de um homem.

16 Ouvi, então, vinda do rio Ulai, uma voz que gritava: “Gabriel, explica a visão para esse aí! ”

17 Ele se dirigiu então ao lugar onde eu estava. Quando se aproximou, eu me assustei e prostrei-me, o rosto no chão. Ele disse: “Filho do homem, entende que a visão é para o tempo do fim.

18 Ele falava comigo e eu, assustado, de bruços no chão. Ele tocou em mim e fez-me ficar de pé como estava antes.

19 Depois continuou: “Vou te mostrar o que vai acontecer depois do castigo, pois o fim tem data marcada.

20 O carneiro que viste com dois chifres são os reis dos medos e dos persas.

21 O bode é o rei da Grécia e o chifre enorme que tinha entre os olhos é o primeiro rei.

22 Quebrado este, os quatro chifres que cresceram em seu lugar são os quatro reis da mesma nação que vão substituir este primeiro, mas não com o mesmo poder.

23 E, no final de seu reinado, depois de se completarem seus crimes, há de surgir um rei atrevido e bem esperto nas intrigas.

24 Possante será a sua força — com energia que não vem dele—, será um demolidor prodigioso, bem sucedido em tudo o que faz. Vai demolir os poderosos, mas também o povo fiel.

25 Por causa de sua esperteza, a desonestidade terá sucesso através dele. Vai se engrandecer aos próprios olhos, destruindo tranqüilamente muita gente. Até contra o Chefe dos chefes vai se colocar, mas, sem ninguém fazer nada, ele será destruído.

26 A mensagem anunciada em imagens para demorar tantas tardes e manhãs é verdadeira; tu, porém, farás segredo da visão, porque é coisa para daqui a muito tempo”.

27 Eu, Daniel, desmaiei e por alguns dias fiquei doente. Depois levantei-me e continuei cuidando dos assuntos do rei. Ainda estava assustado com a visão, sem poder compreendê-la.

9

1 No primeiro ano do reinado de Dario, filho de Xerxes, da nação dos medos, que se tornou rei dos caldeus,

2 no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, pus-me a estudar o número dos anos que deveriam passar com a cidade de Jerusalém destruída, de acordo com a palavra do SENHOR anunciada pelo profeta Jeremias. Eram setenta anos.

3 Voltei o olhar para o Senhor Deus procurando fazer preces e súplicas com jejuns vestido de saco e coberto de cinza.

4 Fiz, então, uma oração ao SENHOR meu Deus, confessando: “Ah! Senhor, Deus imenso e terrível, cumpridor da Aliança e do amor fiel para com aqueles que amam e guardam seus mandamentos!

5 Nós erramos, nós pecamos, nós praticamos a injustiça, desobedecemos, desviamo-nos dos teus mandamentos e das tua sentenças.

6 Não quisemos escutar teus servos, os profetas, que em teu nome falavam a nossos reis e autoridades, a nossos pais e a todos os cidadãos.

7 Do teu lado, Senhor, está o direito, e para nós fica a vergonha que hoje estamos passando, tanto os senhores de Judá, quanto os cidadãos de Jerusalém, Israel em peso, tanto os que estão perto, quanto os que estão longe, por todos esses países por onde os espalhaste por causa dos crimes que contra ti praticaram.

8 SENHOR, para nós, para nossos reis, nossas autoridades e nossos pais só fica esta vergonha pela qual estamos passando, pois pecamos contra ti.

9 A ti, Senhor nosso Deus, cabem a misericórdia e o perdão, pois pecamos contra ti.

10 Nós não escutamos a palavra do SENHOR nosso Deus, de modo a caminhar de acordo com as leis que ele nos deu por meio dos seus servos, os profetas.

11 Israel inteiro desrespeitou as tuas leis e deixou de obedecer à tua palavra; por isso, caíram sobre nós as maldições e ameaças que estão escritas na Lei de Moisés, servo de Deus, pois pecamos contra ele.

12 Ele cumpriu as ameaças que tinha feito contra nós e nossos juízes, que faziam julgamentos e proferiam sentenças tão injustas como nunca se fez debaixo do céu, tal e qual se fazia em Jerusalém.

13 Toda essa desgraça nos veio de acordo com o que está escrito na Lei de Moisés. Nós, porém, não nos esforçamos por agradar o Senhor nosso Deus, arrependendo-nos dos pecados e levando a sério a sua fidelidade.

14 O SENHOR mesmo se encarregou dessa maldição e fez que ela chegasse até nós, pois o SENHOR nosso Deus é um Deus justo em tudo o que faz e nós não quisemos escutar a sua palavra.

15 Agora, Senhor nosso Deus, tu que tiraste teu povo da terra do Egito com mão forte, criando-te a fama que tens hoje, nós pecamos, praticamos a injustiça!

16 Senhor, com toda a tua justiça, volta teu rosto, tem pena de Jerusalém, tua cidade, a tua Montanha Santa, pois, por causa de nossos crimes e dos pecados de nossos pais, Jerusalém e teu povo são hoje uma vergonha em todo o derredor.

17 Agora, então, Deus nosso, escuta a oração do teu servo, suas súplicas, e, por causa de ti mesmo, faze brilhar tua face sobre o teu Santuário abandonado.

18 Inclina, meu Deus, teu ouvido para escutar, abre os olhos para ver a ruína nossa e da cidade sobre a qual teu nome foi invocado, pois não é por confiar na nossa justiça e, sim, na tua imensa compaixão que imploramos misericórdia diante de ti.

19 Escuta, Senhor! Perdoa, Senhor! Atende, Senhor, e começa a agir sem demora, por causa de ti mesmo, meu Deus, pois teu nome foi invocado sobre esta cidade e sobre o teu povo”.

20 Eu ainda estava falando, fazendo a minha prece, confessando o pecado meu e de Israel meu povo, fazia minha súplica chegar diante do Senhor, meu Deus, na sua Montanha Santa,

21 sim, eu ainda pronunciava minha oração, quando Gabriel, o homem que eu tinha visto no começo da visão, voando rápido veio para perto de mim. Foi na hora da oração da tarde.

22 Ele chegou e falou comigo assim: “Daniel, vim para ensinar-te uma interpretação:

23 Quando começaste tua oração, surgiu uma mensagem, que eu vim te contar, porque és querido. Presta atenção à mensagem e estuda a visão.

24 Setenta semanas foram determinadas em favor do teu povo e da tua cidade santa, a fim de pagar o crime, corrigir o erro, limpar o pecado, até que chegue a justiça eterna, se cumpram a visão e a profecia, e o Santo dos santos seja consagrado.

25 Fica sabendo e compreende: desde quando a mensagem apareceu falando de reconstruir Jerusalém até o príncipe ungido sete semanas hão de passar. Em sessenta e duas semanas praças e valos serão reconstruídos, mas em tempos difíceis.

26 Após as sessenta e duas semanas, inocente, o ungido será eliminado. O exército do comandante que chega destruirá a cidade e o santuário. O seu fim será numa invasão, numa guerra sem trégua, destruição determinada.

27 Ele firmará uma aliança com as autoridades para durar uma semana. E na metade da semana vão parar o sacrifício e a oferenda, enquanto de um lado do templo estará a abominação desoladora, até acabar, até cair sobre o Devastador o que para ele está determinado”.

10

1 No terceiro ano de Ciro como rei da Pérsia, uma mensagem foi revelada a Daniel, chamado Baltasar — mensagem segura e grande luta. Ele entendeu a mensagem e seu entendimento se deu numa visão.

2 Naqueles dias eu, Daniel, fiquei de luto por três semanas.

3 Nada comi que tivesse algum sabor, carne e vinho não entraram em minha boca, nem usei qualquer tipo de perfume durante três semanas completas.

4 No dia vinte e quatro do primeiro mês estava eu perto do grande rio, o Tigre,

5 quando, de repente, dei com os olhos e vi o seguinte: um homem vestido de linho e tendo na cintura um cordão de ouro puro.

6 Seu corpo parecia de pedra preciosa, o rosto era um relâmpago, os olhos, lâmpadas acesas, braços e pernas tinham o brilho do bronze polido. Sua voz parecia o grito de uma multidão.

7 Só eu, Daniel, enxerguei a visão. Os outros que comigo estavam nada viram, mas, mesmo assim, caiu sobre eles um medo tal que fugiram para se esconder.

8 Fiquei sozinho observando essa magnífica visão. Não me restavam forças, meu rosto, corado, empalideceu, desapareceu o meu vigor.

9 Ouvi, então a voz de alguém que falava. Eu estava assustado, já prostrado, o rosto no chão.

10 Misteriosa mão tocou-me e fez-me ficar apoiado nos joelhos e nas palmas das mãos.

11 Disse-me: “Daniel, homem querido, entende a mensagem que te trago, fica de pé, pois agora fui enviado a ti”. E, enquanto ele falava comigo, eu fui me levantando, tremendo.

12 Ele me disse: “Deixa de medo, Daniel, pois desde o primeiro dia, quando começaste a meditar e a te humilhar diante de Deus, tuas palavras foram ouvidas, e é por causa delas que eu vim.

13 Há vinte e um dias que o chefe do reino da Pérsia combate comigo, mas Miguel, um dos primeiros chefes, veio me ajudar. Pois eu o deixei lá, enfrentando o rei da Pérsia

14 e vim explicar-te o que vai acontecer ao teu povo nos últimos dias, pois ainda existe uma visão para estes dias”.

15 Enquanto ele falava essas coisas comigo, voltei o rosto para o chão e fiquei mudo.

16 Alguém com a aparência de um ser humano tocou me os lábios e eu pude abrir a boca. Falei, então, àquele que estava à minha frente: “Senhor, com esta visão eu perdi a cor, minhas forças desapareceram.

17 Como poderia o servo do meu senhor falar, se minhas forças sumiram e até perdi o fôlego? ”

18 A tal figura humana tocou-me novamente e recobrei as forças.

19 Ele me disse: “Nada de medo, homem querido! Calma! Coragem! Coragem! ” Bastou ele falar e eu me senti mais forte e disse: “Fala, meu Senhor, que me devolveste as forças! ”

20 E ele, então, disse: “Muito bem! Sabes porque te vim procurar! Agora devo combater contra o chefe do reino da Pérsia. E logo que eu partir para a guerra, o chefe dos gregos há de chegar.

21 Mas vou anunciar-te o que está escrito no livro da verdade. Ninguém me ajuda na guerra contra eles a não ser Miguel, vosso chefe.

11

1 Eu, da minha parte, estive ao lado dele, dando-lhe força e ajudando-o, no primeiro ano do † rei medo, Dario.

2 Agora vou dizer-te a verdade: haverá ainda três reis na Pérsia e mais um quarto rei que será o mais rico de todos eles. E este há de empregar contra o reino da Grécia toda a sua força e riqueza.

3 “Depois aparecerá um rei valente, que há de dominar o grande império e fazer o que bem entender.

4 Assim que ele se estabelecer, porém, seu império será dividido pelos quatro ventos do mundo. Não, porém, entre seus descendentes nem com o mesmo poder com que fora governado, mas será retalhado entre pessoas estranhas.

5 O rei do sul se tornará poderoso, mas um dos seus generais ficará mais forte do que ele e terá um domínio maior que o dele.

6 Depois de alguns anos, os dois farão aliança, de modo que a filha do rei do sul irá † se casar com o rei do norte para confirmar os acordos, mas ela não manterá o poder e seu poder não subsistirá, pois serão entregues ela, sua comitiva, seu filho e aquele que a garantiu por certo tempo.

7 Surgirá, depois, um broto das mesmas raízes, que se colocará em seu lugar. Ele sairá para a luta até entrar na fortaleza do rei do norte, impor-se a ele e subjugá-lo.

8 Levará como troféu para o Egito até os seus deuses, suas imagens, objetos preciosos de ouro ou prata. Dominará por alguns anos, livre do rei do norte.

9 Este de novo tentará invadir o reino do sul, mas será obrigado a voltar para a sua terra.

10 Os filhos do rei do norte, contudo, vão se armar, reunir um grande e forte exército, e um deles há de avançar, passando como enchente e voltará a lutar até na própria fortaleza.

11 O rei do sul vai se inflamar e sairá para a luta contra ele. O rei do norte terá mobilizado um grande exército, mas toda aquela multidão cairá nas mãos do rei do sul.

12 Ao derrotar aquela multidão seu coração se encherá de soberba, de modo que, embora tenha derrotado milhares, não alcançará a vitória definitiva.

13 O rei do norte conseguirá mobilizar um exército mais numeroso que o primeiro e ao final de certo tempo virá com imenso poderio militar e muitos recursos.

14 Naquela ocasião, muitos estarão querendo enfrentar o rei do sul, inclusive alguns indivíduos degenerados do teu povo, que, pensando realizar uma visão, promoverão uma revolta, mas hão de fracassar.

15 Virá, então, o rei do norte. Ele levantará uma trincheira e tomará a cidade cercada de muralhas. As forças do sul, nem mesmo a tropa de elite, serão capazes de resistir. Faltará força.

16 Após invadir, ele fará o que quiser sem que ninguém lhe resista. Ele se estabelecerá em nossa terra deliciosa e a decisão final estará em suas mãos.

17 Ele vai pretender conquistar todo o reino. Fará um acordo com o rei do sul e lhe dará a filha em casamento pensando destruí-lo, mas não vai adiantar e o reino não será seu.

18 Ele, então, voltará seu interesse para o lado das ilhas e conquistará muitas delas. Uma autoridade, porém, vai fazê-lo pagar pela sua ousadia sem que ele seja capaz de retrucar.

19 Ele se dirigirá para as fortalezas do seu próprio país, mas há de tropeçar, cair e desaparecer.

20 Em seu lugar surgirá outro rei que mandará alguém para cobrar a honra do império, mas em poucos dias será derrotado sem ódio e sem guerra.

21 Vai sucedê-lo no poder um homem desprezível, a quem não se atribuem honras de rei, mas ele virá sorrateiramente e, com intrigas, há de alcançar o poder.

22 Forças militares serão varridas da sua frente e eliminadas, inclusive um líder da Aliança.

23 Junto com os que a ele se aliarem praticará traições e, assim, irá crescendo e se fortalecendo apesar de ter pouca gente do seu lado.

24 Sorrateiramente irá entrando nas províncias mais ricas, fazendo o que nem seus pais nem seus avós fizeram: distribuirá entre os amigos os seus furtos, ganho e lucros. Depois fará planos contra as cidades fortificadas, mas apenas por algum tempo.

25 Em seguida, contando com grande exército, porá em ação suas forças e sua ousadia contra o rei do sul. Este se aprontará para a guerra com um exército muito grande e forte, mas não poderá resistir, porque tudo estará tramado contra ele.

26 Os mais íntimos, os que comem com ele, é que o derrotarão. Seu exército será dizimado, tropas numerosas arrasadas.

27 Os dois reis com as cabeças repletas de malícia, sentados à mesma mesa, mentirão um ao outro, mas nenhum dos dois conseguirá coisa alguma porque a hora ainda não chegou.

28 O rei do norte voltará para sua terra com muitas riquezas, mas com o pensamento voltado contra a Aliança Sagrada. Depois de fazer o que planejava, voltará para sua terra.

29 No tempo marcado voltará a invadir o sul, mas desta vez não será como da primeira.

30 Navios romanos virão contra ele que, amedrontado, recuará, indignado contra a Aliança Sagrada. Ao voltar, > novamente dará apoio aos que abandonam a Aliança Sagrada.

31 Forças militares suas prevalecerão e profanarão o Santuário-fortaleza: abolirão o sacrifício permanente para instalar um ídolo abominável e desolador.

32 Com bajulação desviará os que pervertem a Aliança, mas o grupo dos que têm o conhecimento de Deus se manterá firme e reagirá.

33 Os mais conscientes do grupo esclarecerão a muitos, mas acabarão mortos à espada ou na fogueira ou condenados à prisão ou ao confisco dos bens por algum tempo.

34 Quando caírem em desgraça poucos os ajudarão, mas muitos se aproximarão deles para fazer intrigas.

35 Alguns dos mais avisados vão tombar, de modo que aconteça o expurgo, a separação, a limpeza que precede o fim, — pois a hora marcada ainda não chegou.

36 Este rei fará o que bem entender. Há de se engrandecer e se exaltar acima de todos os deuses, e até contra o Deus dos deuses ele dirá insolências. Terá sucesso até o momento da vingança, pois o que está marcado há de se cumprir.

37 Não respeitará nem o deus de seus pais, nem o † deus favorito das mulheres, nem qualquer outro deus, pois pretenderá ser maior que todos eles.

38 No lugar desses ele glorificará a um deus das fortalezas — deus que seus pais jamais conheceram — e vai glorificá-lo com ouro, prata, pedras preciosas e jóias.

39 Com esse deus estrangeiro atacará cidades fortificadas e a seus íntimos ele enriquecerá muito, dará poder sobre muitos e repartirá terras como recompensa.

40 No tempo final, o rei do sul entrará em luta contra o rei do norte, mas este virá sobre ele com carros de guerra, cavalos e navios numerosos, invadindo e atravessando os países como inundação.

41 Invadirá também nossa Terra Deliciosa, e tombarão aos milhares. Só escaparão de suas mãos os edomitas, os moabitas e um resto dos amonitas.

42 Irá se apossando de todos os países, nem o Egito escapará dele.

43 Passará a ser dono das riquezas em ouro e prata e de tudo o que houver de mais valioso no Egito. Até os líbios e os etíopes passarão a seguir os seus passos.

44 Contudo, notícias chegadas do oriente ou do norte virão assustá-lo. Ele se porá em marcha, furioso, com vontade de matar e liquidar muita gente.

45 Armará as tendas da sua nobre residência entre os dois mares, na deliciosa montanha santa. Aí chegará ao seu fim, sem que ninguém venha ajudá-lo.

12

1 Naquele dia vai prevalecer Miguel, o grande comandante, sempre de pé ao lado do teu povo. Será hora de grandes apertos, tais como jamais houve, desde que as nações começaram a existir até o tempo atual. Só escapará, então, quem for do teu povo, quem tiver seu nome inscrito no livro.

2 A multidão dos que dormem no pó da terra acordará, uns para a vida, outros para a rejeição eterna.

3 Os conscientes hão de brilhar como relâmpagos, os que educaram a muitos para a justiça brilharão para sempre como estrelas.

4 Tu, Daniel, guarda em segredo esta mensagem, deixa lacrado este livro até o tempo final. Muitos hão de lê-lo e ampliar seu conhecimento”.

5 Eu, Daniel, vi também outros dois de pé à beira do rio, um de um lado e o outro do outro.

6 Perguntei ao homem vestido de linho que estava por cima das águas do rio: “Quanto tempo vai demorar para se cumprirem essas coisas maravilhosas? ”

7 Ouvi, então, o homem vestido de linho, que estava por cima das águas do rio. Ele ergueu a mão direita e a mão esquerda e jurou por Aquele que vive eternamente: “Um tempo, dois tempos e meio: quando terminar a dispersão de forças do povo santo, tudo isso se realizará”.

8 Ouvi, mas não entendi. Disse, então: “Meu senhor, como terminará tudo isso? ”

9 Ele respondeu: “Vai, Daniel. Esta mensagem deve ficar guardada e lacrada até o tempo final.

10 Muitos ainda serão escolhidos, limpos e expurgados, enquanto os maus continuam praticando a injustiça. Os maus nada entenderão, só os conscientes entenderão.

11 A partir do dia em que interromperem o sacrifício permanente e instalarem aquele ídolo abominável, hão de passar mil duzentos e noventa dias.

12 Feliz de quem souber esperar e alcançar os mil trezentos e trinta e cinco dias.

13 Quanto a ti, segue até o fim. Vais descansar, depois hás de te levantar para receber o teu prêmio no final dos dias”.